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Viver, amar, ensinar - Parashat Vaetchanan

Se o livro de Devarim como um todo pode ser lido como um resumo dos livros de Shemot, Vaicrá e Bamidbar, recontados sob a ótica de Moshé, a parashá Vaetchanan poderia ser vista como o resumo dos resumos. Nela encontramos os Aseret haDibrot - 10 Mandamentos e o Shemá, além de descrições do recebimento da Torá e o ressentimento de Moshé diante da proibição de entrar na Terra Prometida, entre outros relatos. Nesta parashá, em especial, Moshé fala de como o povo deve se comportar a partir do momento em que habitar a Terra Prometida, para que possam prosperar e perdurar.


O primeiro aspecto é viver de acordo com as regras morais apresentadas nos Aseret haDibrot. Traduzidos como mandamentos, eles são, em realidade, regras morais para manter o relacionamento do povo com Deus e o relacionamento das pessoas entre si. Regras que iniciam com o estabelecimento de uma relação monogâmica com Deus, que nos livrou da escravidão, que nos separou entre todos os povos para estabelecer esta relação baseada nas regras apresentadas, para as quais respondemos: “Naasê venishmá. Faremos e escutaremos.” (Shemot 24:7). Regras através das quais devemos viver: “Vechai bahem – e viva através delas” (Vaicrá 18:5). Estudamos, ressignificamos, e vivenciamos a Torá diariamente.


Após a compreesão e absorção das regras, estando estabelecida a relação, somos comandados a amar. O amor comandado nesta relação não é a paixão arrebatadora que aprendemos nos filmes de Hollywood, é o amor cotidiano, de corpo, alma e totalidade: bechol levavechá, uvechol nafshechá, uvechol meodecha (Devarim 6:5) É o amor que construímos ao entrar e sair de casa, nos caminhos, ao longo do dia, e que transmitimos para as próximas gerações. Amar é agir, demonstrar em todos os nossos atos o compromisso com a manutenção da relação com Deus e sua criação, onde quer que estejamos.


Então, uma vez que esta relação se tornou tão profunda que se impregnou em todos os nossos atos, é chegada a hora de transmitir e ensinar ativamente as regras com as quais concordamos trilhar nossos dias e o amor que guia nossos passos em todos os nossos caminhos. Ensinar, em Vaetchanan é um ato forte, traduzido como impregnar, gravar, cunhar. Ensinamos através do exemplo, ao vivermos através das regras e leis estabelecidas pela Torá, mas o exemplo somente não é suficiente. O comentarista bíblico e filósofo italiano da era medieval, Ovadia Sforno, explica que devemos ensinar por meio da repetição e por meio de evidências intelectuais nítidas, que devemos discutir os ensinamentos para nos lembrarmos constantemente deles. Conversamos, discutimos e aprofundamos nossos conhecimentos.


Viver, amar e ensinar o judaísmo cotidianamente, onde quer que estejamos, com a mesma intensidade e propriedade é o que prega a parashá Vaetchanan. Engajar em conversas trazendo preceitos judaicos, histórias, tradições que ilustrem nossos pontos de vista tradicionalmente faz parte da cultura judaica. Abraçar as novas gerações com escuta e carinho constrói o futuro do judaísmo. Assim tem sido, como aprendemos em Pirkei Avot, de geração em geração: de Moshé a Yehoshua, dele aos anciãos, dos anciãos aos membros da Grande Assembléia, e assim por diante.


Ao final da parashá lemos: “Saiba que Adonai, seu Deus, é o único Deus, o Deus constante, que mantém a aliança divina fielmente até a milésima geração daqueles que amam [a Deus] e guardam os mandamentos divinos.” Devarim 7:9


Viver o judaísmo, amar Deus e sua criação, e ensinar este amor para as gerações futuras. Assim, como ensina a parashá Vaetchanan, temos mantido o judaísmo vivo através dos tempos.


Shabat Shalom!


(originalmente postado no ARInews, da Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro)

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