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Vaishlach - Bereshit 32:4 – 36:46

Mais uma vez chegamos ao shabat de Dina. Este ano, mais do que nunca, Dina grita na terra de Israel.


וַיַּ֨רְא אֹתָ֜הּ שְׁכֶ֧ם בֶּן־חֲמ֛וֹר הַֽחִוִּ֖י נְשִׂ֣יא הָאָ֑רֶץ וַיִּקַּ֥ח אֹתָ֛הּ וַיִּשְׁכַּ֥ב אֹתָ֖הּ וַיְעַנֶּֽהָ׃

Shechem, filho de Hamor, o hivita, chefe do país, viu [Dina], tomou-a, a deitou e a violou.


Ao ouvir que sua filha havia sido violada e sequestrada, Iaacov se cala. Os irmãos de Dina se revoltam e violentamente matam não somente Shechem, mas também todo o seu povo.


A acadêmica Bex Stern-Rosenblatt escreve em seu comentário: “Dina passou por algo terrível. Ela foi tirada de sua casa, estuprada e mantida detida contra sua vontade. Seu captor, seu estuprador, irá até sua família e alegará que quer se casar com ela. Enquanto isso, Dina ainda está detida com a família do estuprador. Só muitos dias depois é que Dina é libertada. Lemos que os irmãos de Dina “levaram Dina da casa de Shechem e saíram”. Eles matam o estuprador dela, o pai dele e toda a cidade e a levam para casa. O tempo todo, Dinah foi uma prisioneira. Dinah viu muita coisa, viveu muita coisa. Os irmãos dela tiveram que fazer o que for preciso para trazê-la para casa e foi horrível.”


A partir do momento em que Dina é violentada, ela perde sua voz e sua ação. Seu pai se preocupa com a política, seus irmãos com a vingança, mas ninguém se preocupa com Dina. Ela não recebe palavras de conforto ou carinho. O foco não é Dina, mas a honra de sua família, de seu povo.


A história de Dina parece se repetir nos dias de hoje, multiplicada inúmeras vezes, transmitida nas redes sociais, ecoada em diferentes campanhas que clamam posicionamentos de grupos feministas, da ONU, de indivíduos não judeus do mundo. Estão todos cegos, surdos, mudos? #metoo-unlessurajew


No entanto, o que muitas e muitos não entenderam é que o silêncio que machuca e oprime não é somente este, mas o de nosso lado, quando nos calamos diante dos perigos e das violências que mulheres israelenses estão vivendo nestes dias em Israel. Mulheres judias que sofrem abuso doméstico e que agora vêm seus maridos em casa, armados, com armas fornecidas por extremistas direitistas. Mulheres judias que sofrem micro agressões e não têm suas vozes ouvidas, seus relatórios são ignorados, e a consequência é a morte delas mesmas. Mulhres colocadas no fundo do ônibus, deixadas para trás por conta de suas roupas. Os jornais israelenses noticiam, mas nós dizemos que não vamos reproduzir porque agora não é a hora. Nós pedimos que os outros falem, mas nós nos calamos.


Na Torá, Dina é calada, e então some nos espaços entre as letras de nosso texto sagrado. De lá ela sai somente para entrar na contagem de pessoas da família de Iaacov que vão para o Egito. Silenciosa e quase despercebida, ela volta à sombra do texto.


Talvez seja neste lugar de esquecimento que, individualmente, as mulheres que sofreram os indescritíveis abusos do dia 07 de outubro queiram sumir. No espaço vazio entre as letras sagradas. Talvez para Dina este seja um lugar seguro, tranquilo, abrigado. No entanto, nossa responsabilidade coletiva é compreender que o silêncio de Iaacov não pode ecoar em nossos dias.


Precisamos continuar pedindo o posicionamento público de todas as pessoas e instituições que teimam em se calar. Mas também precisamos quebrar o nosso próprio silêncio e proteger nossas mulheres onde quer que elas estejam, de todo e qualquer agressão ou perigo que estejam sofrendo. Não podemos nos calar, porque nosso silêncio pode custar mais vidas femininas neste ciclo vicioso da violência estrutural contra a mulher. Se queremos parar o silêncio, precisamos gritar.


Para as Dinas de nosso povo, que vocês possam encontrar carinho e conforto, um lugar de luz, anonimato e abrigo, entre as escuras letras de nossa Torá.


Shabat Shalom.



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