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Vaiakel - Shemot 35:1 - 38:20

Em Vaiakel Moshé convoca o povo de Israel em comunidade. Deus ordena que os israelitas não façam nenhum trabalho no Shabat. Os israelitas doam presentes para a construção do Mishkán, sendo que suas doações são tão numerosas, que Moshé fala para que parem de doar. Deus nomeia Oliav e Bezalel, para usar seus dons e guiar os israelitas para a construção do Mishkán.


Vaiakel, pode ser encarada como o início do fim do livro de Shemot, e quando lida em um crescente, desde parashiot anteriores, podemos entender esta como uma parashá que traz uma mensagem para o futuro dos bnei Israel, para o nosso futuro. Uma lição de iniciativa, livre arbítrio e empoderamento humano.


A primeira dica desta mensagem pode ser encontrada na comparação do recebimento do primeiro para o segundo conjunto de tábuas da lei. Na primeira vez Deus diz a Moshé: “Eu lhe darei as tábuas de pedra com os ensinamentos e mandamentos que inscrevi para os instruir”[i]. No segundo conjunto, Deus comanda: “Entalhe duas tábuas de pedra como as primeiras e eu inscreverei sobre as tábuas as palavras que estavam nas primeiras tábuas que você quebrou”[ii]. Se as primeiras foram confeccionadas e entregues por Deus, para as segundas foi necessário o trabalho humano, a parceria, para que a entrega fosse possível.


O mesmo acontece com o espaço entre a instrução dada por Deus para a construção do Mishkán e a efetiva construção do mesmo. As instruções começam com a famosa frase: “Deixe que me façam um Santuário para que Eu habite entre eles”[iii] e então seguem instruções detalhadas sobre a construção do Mishkan, doações do povo, a indicação dos artesãos que liderarão o trabalho do povo. Mas esta semana, em Vaiakel, quando lemos o início da construção do Mishkán, é Moshé quem convoca a comunidade e instrui a construção.[iv]


No meio destas mudanças se encontra o epicentro da mudança da relação entre Deus, Moshé e o povo: o episódio do Bezerro de Ouro.[v] No momento em que o povo toma em suas mãos a decisão de trair o pacto estabelecido com Deus, torna-se claro que a ação humana, a autoria, é necessária para que haja a sensação de propriedade.


Esta também é a leitura da rabina Aviva Richman: “Após o longo processo de pedir perdão a Deus pelo pecado do bezerro de ouro, Moshé não tem certeza se Deus ainda quer o Mishkán. Quando examinamos cuidadosamente o texto da Torá, vemos que Deus nunca fala explicitamente de “morar no meio do povo” ao longo de sua negociação. Também percebemos que Deus não fala com Moshé em toda a Parashat Vaiakel. Deus não diz a Moshé para construir o Mishkán agora – Moshé apenas entra e coloca esse projeto enorme em marcha.” Ela segue “Vaiakel representa a ousada iniciativa de Moshé. O antídoto para o bezerro de ouro não é a obediência estrita a uma instrução divina explícita. A congregação de Vaiakel também requer intuição diante do desconhecido, mas desta vez impulsionada pela visão de Moshé, e não por Aharon sendo arrastado pelo caos da multidão. Vaiakel expressa iniciativa humana, esperança e uma dose de hutzpá.”


O shabat, inserido neste contexto, nos traz a responsabilidade de manter a santidade em nossos atos. Construímos 6 dias, assim como Deus durante a criação, não esperamos que as coisas sejam criadas e entregues gratuitamente. Mas no sexto dia descansamos e reconectamos com a carga de santidade que precisamos para mais uma semana de trabalho com dedicação e intenção. O Shabat não é somente um espaço que paira no tempo, mas um objetivo, um fim, um companheiro. Toda ação deve levar à santidade, todo período de trabalho deve levar ao Shabat. Assim, nos mantemos perto de Deus, e Ele pode estar entre nós.


“A “reunião - Vaiakel” que resulta em bênção em vez de destruição decorre de visão e determinação, fazendo o melhor para interpretar as palavras de Deus e reunindo uma comunidade em toda a sua gama de pessoas e habilidades para viver essa visão. Talvez depois de tanto esforço, nós também mereçamos a bênção divina. Enquanto isso, esta parashá nos ensina a não esperar que a voz de Deus emerja tão cedo e apenas comecemos a trabalhar.”[vi]


Em momentos de guerra, de calamidade, como os que estamos vendo nos últimos dias, é mais fácil termos esta determinação de levantar e agir. É humano que busquemos nos revestir de uma esperança desesperada ao invés de nos entregarmos a uma obediência cega. Mas esta força e determinação devem nos mover também nos dias de paz, para construirmos, com nossa habilidade humana, lugares onde Deus possa habitar, e as relações entre os humanos possam ser as verdadeiras construtoras da paz, a paz verdadeira e duradoura, a qual hoje tanto almejamos.


Shabat Shalom.



[i] Shemot 24:12 [ii] Shemot 34:1 [iii] Shemot 25:8 [iv] Shemot 35:1 [v] Shemot 32 [vi] Rabina Aviva Richman

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