De acordo com a compilação de ensinamentos éticos e máximas da tradição judaica rabínica Pirkei Avot[i], ou Ética dos Pais, alguns aniversários são muito importantes: cinco anos para iniciar o estudo da Torá; depois dez para o estudo da Mishná; 13 para assumir os mandamentos, se tornar responsável; 15 para o estudo do Talmud; 18 para casamento; 20 para ganhar a vida; 30 seria o auge da força; 40 anos marcam a sabedoria; 50 para dar conselhos; 60 para a maturidade, setenta para cabelos grisalhos; 80 é a idade da força.
Ainda de acordo com nossa tradição, atingir os 120 anos é um desejo tradicional de vida longa e boa saúde. De acordo com a Torá, Moisés morreu aos 120 anos. A vida longa era vista como uma recompensa pelo comportamento correto, viver até os 120 anos tornou-se um objetivo idealizado. Muito mais do que um número em si, é o desejo de que possamos fazer do nosso tempo de vida algo especial, que nossa vida tenha um propósito maior. Então, para nossa tradição, a data de nascimento de uma pessoa não é tão importante quanto o que uma pessoa faz durante a sua vida.
Mishenichnas Adar marbim besimchá, quando o mês de Adar começa, a alegria aumenta, é o que diz a música infantil. Eu concordo. Meu aniversário no calendário hebraico é 1 de Adar א, Rosh Chodesh Adar. Eu adoro aniversário. Talvez porque é um dia reservado na agenda para encontrar amigos e família, que são nossas maiores bênçãos na vida. Mas também porque o dia do aniversário é aquele em que eu paro e reconheço com muito mais intenção todas as coisas boas que a minha vida me trouxe, e todas as possibilidades que tenho de impactar a vida de outras pessoas, dar propósito para a minha existência neste mundo.
A mensagem de aniversário que mais me marcou, já há alguns anos, trazia uma citação do Rav Nachman de Breslav: “O dia em que você nasceu é o dia em que Deus decidiu que o mundo não podia mais existir sem você.” A mensagem não é somente linda, mas é imbuída de uma responsabilidade imensa: eu tenho uma missão neste mundo, que eu preciso compreender e perseguir. Com o passar dos anos, vamos compreendendo que temos várias missões na vida, vários papéis e várias maneiras de marcar nossa passagem. Para cada uma delas, devemos ser a melhor versão que podemos ser de nós mesmos.
Há alguns aniversários na vida de um judeu, ou uma judia, que são marcados por celebrações especiais, como os 3 anos, que em comunidades tradicionalistas marca o primeiro corte de cabelo da criança, ou então os 12 ou 13 anos, quando celebramos Bat e Bar Mitsvá. Mas como celebrar de maneira judaica um aniversário comum? A minha maneira é fazer uma aliá à Torá e uma campanha para alguma causa que me mova profundamente. Cada ano escolho algo diferente, procurando a idoneidade da instituição e um motivo que me toque naquele momento. Faço a minha doação, e convido meus amigos a também fazerem uma doação, do tamanho que mover os corações deles, para a causa que escolhi.
A minha maneira de celebrar conversa com o texto da parashá que lemos esta semana, Terumá. Logo no início lemos que Adonai fala para Moshé: “Diga ao povo israelita que Me traga presentes; você deve aceitar presentes para Mim de cada pessoa cujo coração assim o move.”[ii] Diferente do meio shekel que aparece em outras ocasiões, e é mandatório, aqui se trata de uma doação voluntária, que varia de acordo com a generosidade e possibilidade de cada um. Terumá é uma doação que é um presente alimentado pelo coração.
Marcar aniversários de maneira judaica é dar propósito à celebração como devemos dar propósito às nossas vidas. Neste ano, eu estou quase chegando na idade que o Talmud indica ser aquela de dar conselhos, enquanto nossa comunidade, a ARI, faz 80 anos, a idade da força especial. Meu conselho é que neste ano todos nós celebremos nossos aniversários junto com a ARI. Que, como eu, vocês venham fazer uma aliá à Torá em algum serviço religioso da semana dos seus aniversários.
Que este seja um ano de muito pertencimento, de muita celebração e de muitos presentes do coração.
Shabat Shalom.
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