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Um ninho vazio - Ki Tetsê - Devarim 21:10 - 25:19

Enquanto a parashá da semana passada, Shoftim, trata basicamente de leis relativas ao estabelecimento de um governo para o povo de Israel, a parashá desta semana, Ki Tetsê, traz principalmente regras pessoais; enquanto Shoftim concentra-se em funcionários públicos, a maioria das leis em Ki Tetzê são dirigidas a indivíduos comuns. De forma muito geral, nesta porção da Torá, Moshe apresenta regras específicas sobre relacionamentos familiares adequados, continua com leis que envolvem muitos aspectos da vida cotidiana, justiça, responsabilidade familiar, trabalho e sexualidade.


Ki Tetzê é uma daquelas parashiot onde encontramos algumas partes das quais realmente nos orgulhamos, como a proteção da viúva, do órfão e do estrangeiro, mas algumas passagens vergonhosas e perturbadoras, como “filho rebelde” cuja punição pode incluir a execução (tema da minha pesquisa de Literatura Rabínica para o Leo Baeck College); a vítima de estupro na cidade que é considerada culpada, porque supostamente não pediu socorro; e a vítima de estupro que não está comprometida, e que é obrigada a casar com seu algoz.


Esta semana, um versículo “ficou conversando comigo” durante a semana toda: “Se, no caminho, você encontrar um ninho de pássaro, em qualquer árvore ou no chão, com filhotes ou ovos e a mãe sentada sobre os filhotes ou sobre os ovos, não leve a mãe junto com seus filhotes. Deixe a mãe ir e leve apenas os filhotes, para que você possa passar bem e ter uma vida longa.”


A interpretação dominante deste versículo é de que este é um ato de compaixão, para que a mãe não veja seus filhotes sendo capturados. No entanto, eu não consigo me afastar da dolorosa ideia de que esta mãe passarinho vai voltar para um ninho vazio. Um ninho vazio pela morte de seus filhotes. Uma dor que está refletida no texto de Sherri Mandell: “O Talmud diz que quem pensa que a mitsvá de espantar a mãe pássaro mostra a compaixão de Deus deve ser silenciado. Porque eles não entendem. [...] Se a mitsvá fosse um verdadeiro símbolo da compaixão de Deus, então certamente não teríamos permissão para pegar o filhote de passarinho.”


O livro de Sherri é justamente uma tentativa de colocar em palavras todos os sentimentos dela após a morte trágica e violenta de seu filho, em sua própria casa, quando ela não estava lá. Um paralelo assombroso deste versículo na vida real de uma mãe humana. Uma dor que assombra toda mãe.


Meu querido mentor, rabino Joseph Edelheidt escreveu esta semana sobre a necessidade de se ocupar e se envolver com o texto da Torá, para buscar novas possibilidades e alternativas, como o que estou fazendo com a questão do filho rebelde. Mas eu acredito que há momentos em que é também preciso enxergar a dor que o versículo causa, e falar sobre ela.


Em um mundo com compaixão, os filhotes são deixados em paz em seus ninhos, e mães de qualquer espécie não precisam sentir a dor de um ninho vazio.


Shabat Shalom.



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