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Tsav - Vaicra 6:1-8:36

Estamos no livro de Vaicra, Torat haCoanim, o livro de instruções acerca de sacrifícios, instruções para os serviços do Templo. Um livro que, como já disse, pode parecer estranho e difícil, mas se dermos a ele a devida atenção, encontramos lições para nossos dias.


Esta semana lemos a parashá Tsav que fala, entre outros assuntos, da ordenação de Aharon e seus filhos. Achei que este seria o assunto a me chamar atenção, uma vez que estou neste momento de ver minhas queridas colegas do Instituto se formando, enquanto eu adicionei dois anos de estudo ao me transferir para o Leo Baeck College em Londres. Uma escolha difícil, mas acertada.


No entanto, foi outro trecho que me chamou atenção nesta semana. Logo no início da parashá o texto conta que o sacerdote deve mudar de roupa, para vestes de puro linho, para fazer os sacrifícios, e depois mudar de roupas para levar as cinzas para fora do acampamento. Me encontrei refletindo sobre como as vestes fazem parte do serviço e dos diversos momentos da vida.


Nachmanides, ou Ramban, filósofo, cabalista, comentarista bíblico espanhol do século XII, expandiu este pensamento sobre a adequação das roupas dos sacerdotes em face da tarefa a ser performada: “é um mandamento positivo para o sacerdote que as vestes com as quais ele realiza os atos de oferenda, incluindo o levantamento [diário] das cinzas, sejam limpas e que ele não deva realizar o serviço divino regular com essas vestes em que ele leva as cinzas [para fora do acampamento]. Este mandamento [da troca de roupas] é da natureza da etiqueta de um servo para com seu mestre. Portanto, os sacerdotes deveriam ter roupas mais caras para realizar os atos de oferenda e de qualidade inferior para remover as cinzas [para um local fora do acampamento ou cidade de Jerusalém].”


Especialistas de imagem, fashionistas, e outros profissionais de moda estudam e aplicam (alguns com mais maestria do que outros) a ciência do estar adequadamente vestido para o momento. Não sou fashionista, não entendo de marcas e tendências, mas percebo nos diversos ambientes como algumas pessoas sempre estão perfeitamente vestidas para a ocasião, seja ela qual for. Por outro lado, são ainda mais gritantes os momentos de deslize de algumas pessoas. Por conta destes deslizes, algumas empresas passaram a empregar “códigos de vestimenta”, ou seja, regras do que usar ou não em ambientes de trabalho. Alguns destes códigos geraram muito constrangimento, tendo sido abandonados por serem considerados preconceituosos.


Apesar de eu ser radicalmente contra a ideia de tsniut, as regras religiosas de “modéstia” (impostas por homens para mulheres), muitas vezes me vejo refletindo qual é a roupa correta para utilizar quando lidero um serviço. Acredito que roupas façam um papel de transmitir ao outro a nossa intenção em relação ao momento. Então, a roupa que uso para liderar serviços tem uma função: mostrar a solenidade do momento, sem chamar atenção para bem ou para mal. A roupa adequada ao momento, não somente em um ambiente religioso, é reconhecidamente uma ferramenta importante, que infelizmente não é bem utilizada ou respeitada.


Aqui na Inglaterra, as comunidades progressistas não têm mais o costume de ter os rabinos utilizando o Kittel (veste branca utilizada sobre a roupa) durante as Grandes Festas. Uma das sinagogas utiliza tanto o preto durante o ano quanto o branco em Iamim Noraim, mas as outras abandonaram o costume. O Kitel serve também como um escudo, como foi minha experiência de serviço no ano passado. Ele te veste da tarefa sagrada de levar sua comunidade através do momento mais importante do ano, te dá forças, traz solenidade.


Mas também é preciso reconhecer que algumas pessoas sentem uma tensão extra ao se vestir. Por este motivo Steve Jobs escolheu um conjunto de roupas específico, que se tornou marca registrada de sua imagem. Marina Silva, política brasileira, foi extremamente criticada por usar sempre calça jeans clara e camisa branca, vestimenta que marca sua imagem.


A maneira de vestir gera muito mais críticas a mulheres do que a homens. “Dress code”, código de vestimenta, se tornou sinônimo de opressão contra a mulher no ambiente laboral. Tsniut é a imposição religiosa que se aplica somente ao modo de vestir das mulheres. De maneira geral, as pessoas se sentem mais livres para criticar as roupas da rabina, da chazanit, da política, da acadêmica, do que dos homens que ocupam as mesmas posições.


O vestir é importante. No entanto não pode ser utilizado como ferramenta de opressão. Em uma sociedade igualitária, devemos pedir a mesma atenção a homens e mulheres sobre o vestir, o adequar, o valorizar a imagem e a mensagem que queremos transmitir quando nos apresentamos para uma determinada situação.


Que possamos nos vestir com a intenção de dar solenidade e intenção. Que possamos nos cobrir com um manto de bondade e igualdade para todos os momentos de nossas vidas.


Shabbat Shalom


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