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Tetsavê - Exodus 27:20-30:10

A parashá “descreve as roupas dos sacerdotes e como elas devem ser consagradas. Lemos descrições vívidas de cores e elegância. Os visuais são impressionantes em sua majestade. No entanto, escondido atrás de quase todos os visuais está o conhecimento de que essas coisas e essas pessoas serão perdidas. O que deveria ser uma instituição eterna nos será tirado.” É assim que a acadêmica Bex Stern-Rosenblatt se refere à parashá Tetsavê nesta semana. A parashá descreve as roupas e adornos dos sacerdotes, e descreve detalhadamente a cerimônia de ordenação destes sacerdotes.


Mas não é a roupa que faz o sacerdote, na verdade, a roupa serve como um lembrete ao sacerdote de suas funções, de seu papel. Tanto a túnica que faz barulhos com seus sinos quando Aharon se move, quanto o Tsits, que ele traz em sua testa em todos os tempos, com as palavras “Kadosh l’Adonai” – santificado para Adonai – gravadas na placa de ouro. O sacerdote, mesmo quando deixa suas vestes e sua função dentro do Templo, traz a lembrança do peso e do som em seu inconsciente, para se lembrar de que ele tem uma responsabilidade maior diante de sua comunidade.


Nas palavras do rabino Rabino Elie Kaunfer: “O tzitz é o ponto de conexão entre Deus e o Sumo Sacerdote. Não é simplesmente uma banda com o nome de Deus, mas é o lembrete de que Deus vê Aharon “espreitando pelas frestas”. Nesse entendimento, o tzitz funciona como uma ponte e ponto de conexão entre Deus e Aharon.”


Lembro-me de uma vez que peguei um Uber no Rio de Janeiro. O motorista olhava para todos os lados muito atentamente, e em um momento me disse: “olha lá, ele vai roubar a bolsa daquela mulher”. O motorista era um policial, que nas horas vagas trabalhava como motorista de Uber para complementar a renda. O olhar acostumado a buscar o perigo não descansava, ele trazia com ele os sinos da sua veste sempre presentes, o peso de seu frontal sempre sentido. Então ele começou a me contar como não se achava digno de rezar a Deus, porque em seu trabalho era obrigado a atentar contra a vida de outras pessoas. Era um atirador de elite. Os olhares das pessoas que ele precisou atingir perseguiam ele durante seus sonhos. Após assegurar a ele que da importância do trabalho dele, e de como assim ele salvava outras vidas inocentes, ressaltando que ele devia tentar encontrar o diálogo dele, pessoal, com Deus, me despedi e desci do Uber.


Quando comentei com estranheza a meu mentor sobre essa conversa, explicando que eu nada disse sobre o que eu fazia para que ele trouxesse esse incômodo acerca da relação dele com Deus, Joseph me falou: “você leva seu Tsits com você, as pessoas te olham e sabem que podem falar”. Trago comigo esta imagem metafórica do Tsits no meu pensamento.


O Tsits é uma placa de ouro que gera o reflexo de quem olha para ela, então, a pessoa que olha ao sacerdote se enxerga dentro do nome de Deus. O reflexo santifica o outro, não o sacerdote. Para o sacerdote ele é o peso da responsabilidade do ouvir, do estar aberto para criar a possibilidade do outro se encontrar e encontrar Deus.


Meu caminho de formação está sendo longo, bem mais longo do que o inicialmente planejado. Mas também repleto de experiências e possibilidades que espero construírem em mim as vestes e o Tsits necessários para que eu me torne uma rabina consciente, que entende que não há nada de sagrado em si mesma, mas sim no exercício da função, no servir, no estar aberta ao outro e ter a possibilidade de ajudar a encontrar esta fresta, este caminho de cada um com o divino que habita nele mesmo.


Ken iehi ratzon, que assim seja!


Shabat Shalom!

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