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Tetsavê

A parashá que começa com o óleo puro para acender o “ner tamid” (a luminária acesa na entrada da Tenda do Encontro que abrigava a Arca Sagrada), que passa pelas vestimentas e adornos dos sacerdotes (Aharon e seus filhos), e termina com instruções para a construção do altar de incenso evoca o espírito feminino clássico – luz, adornos, roupas, perfume – mas não se refere à mulher em nenhum momento.


Muito pelo contrário, vários estudos, interpretações e suposições são feitos acerca dos motivos pelos quais são Aharon e seus filhos Nadav, Avihu, Eleazar e Itamar – somente os homens da casa de Aharon – chamados para a tarefa sagrada de serem sacerdotes.


Seria por ficarem as mulheres impuras durante a menstruação? Provavelmente não, uma vez que a impureza do homem é tratada de maneira igual à da mulher pela Torá, e uma vez “limpo” de sua impureza o homem voltaria à vida normal, assim como a mulher. Seria pela divisão de trabalho entre homem e mulher em uma sociedade agricultural, em que a mulher deveria criar filhos e procriar? Mas nas sociedades similares vizinhas haviam mulheres sacerdotisas... Então seriam estas sacerdotisas vizinhas oficiantes em templos de deusas, e o judaísmo acredita em um único Deus? Seria esta uma forma de se diferenciar dos vizinhos? Seria o Mishkan pequeno demais para que homens e mulheres servissem juntos? A conclusão de diversos séculos de inquietude quanto ao assunto é de que não há como saber.


O Zohar traz uma explicação linda sobre o “ner tamid”, em que ensina que “ner” pode ser o acrônimo de “Neshamá-Ruach” ou alma-espírito. Juntos alma e espirito representam a união perfeita do masculino e feminino. Juntos, masculino e feminino trazem a luz; mas separados eles são impotentes no escuro.


Como estudante de rabinato, acredito que a liderança espiritual feita somente pelo masculino traz uma versão incompleta e pobre da nossa narrativa e das possibilidades do judaísmo. O que pode ser luz, beleza e perfume torna-se somente sacerdócio. A completude das sensações e sentimentos que traz o texto vivo da Torá, a complexidade da alma humana, a busca da alma e do espírito precisa do masculino e do feminino trabalhando juntos em cooperação.


Como disse Regina Jonas, a primeira rabina ordenada na história do judaísmo, em 1938: “Espero que chegue um tempo para todos nós em que não haverá mais questionamentos sobre o assunto “mulher”: porque enquanto há questões, há algo errado. Mas se eu preciso dizer o que me levou como uma mulher a me tornar rabina, dois elementos me vêm à mente: minha crença em um chamado divino e meu amor pelas pessoas. Deus nos deu habilidades e um chamado em nossos corações, sem reparar em gênero. Então, cada um de nós tem o dever, seja homem ou mulher, de realizar estas dádivas que Deus nos deu. Se você encarar as coisas desta maneira, toma mulher e homem pelo que eles são: seres humanos.”


É passada a hora de fazermos mais do que ouvir o feminino da narrativa, mas darmos realmente voz e ação às mulheres, de maneira igual e sem questionamentos. É passada a hora de iluminarmos o judaísmo com o equilíbrio do feminino com o masculino, em iguais partes, duas metades de um mesmo ser original, criado à imagem e semelhança divina.

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