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Terumá - Shemot 25:1 a 27:19

Terumá é a parashá que inicia com o comando de pedir aos israelitas a fazerem as doações que o coração de cada um mandar, escolhendo dentro de uma lista de matérias primas necessárias para a construção do Mishkan, que vai ser coordenada nas próximas parashiot, para depois ser construído. Um projeto comunitário. Um projeto que só é possível com a participação de todos. O objetivo é construir um local para Deus viver entre nós:


וְעָ֥שׂוּ לִ֖י מִקְדָּ֑שׁ וְשָׁכַנְתִּ֖י בְּתוֹכָֽם׃

E Me façam um santuário para que Eu possa habitar entre eles.


A clássica pergunta é se realmente Deus ficaria contido naquele lugar físico específico, ou o que significaria habitar entre eles (eles, os israelitas). Sendo Deus onipotente, onisciente, onipresente; intangível e inexplicável, um lugar não poderia conte-Lo, mas um objeto, uma arca, construída pela comunidade toda, poderia ser um símbolo de onde Deus realmente pode ser encontrado.


Há pouco tempo recebi a visita de uma querida amiga, e em uma conversa profunda e sagrada, em um momento absolutamente mundano (estávamos caminhando para o metrô), surgiu este questionamento: “mas para você, o que é Deus então?” “quando você está desesperada, reza pedindo ajuda de Deus?”


Falamos de como o momento de encontro entre duas pessoas, a conversa sincera, a troca real, são manifestações divinas. Uma ideia sustentada pelo filósofo Martin Buber, que apresenta uma filosofia de diálogo pessoal, em uma ideia de que o diálogo pessoal pode definir a natureza da realidade. Que a existência humana pode ser definida pela maneira como nos engajamos no diálogo uns com os outros, com o mundo e com Deus. Um diálogo em que ambas as partes estão verdadeiramente abertas à escuta e à transformação pessoal por esta troca com o outro. Se abrir verdadeiramente ao outro, ser escutado verdadeiramente, e desta troca nascer algo novo, uma ideia ou um desconforto, é um encontro divino. Entre os olhares das pessoas envolvidas nesta troca, Deus habita.


Em nossa conversa também reconhecemos a presença divina no funcionamento da natureza, na criação divina, tenha ela sido feita em 7 mitológicos dias ou em uma evolução científica que nos trouxe a este lugar em que estamos hoje. Conversamos sobre como esta ideia pode ser encontrada no pensamento do filósofo Baruch Spinoza, para quem Deus é a substância única infinita, necessariamente existente (isto é, auto-causada) do universo. Existe apenas uma substância no universo; é Deus; e tudo o mais que existe, está em Deus. do poder ou natureza infinita de Deus “todas as coisas necessariamente fluíram”, nas palavras de Spinoza. Encontrar Deus no fluxo de energias que nos circulam, em toda a criação, e reconhecer isto tudo como emanação divina, nos faz olhar o mundo de maneira diferente, mais consciente e mais responsável.


Deus está na nossa capacidade de refletir, pensar, reconhecer. Em nossa possibilidade de olhar o mundo e o outro como partes de algo muito maior. Talvez aquele grupo de escravos precisasse usar de todas as suas habilidades, de parte importante de suas posses, para construir algo que significasse a Presença Divina entre eles. Mas nós, hoje, precisamos enxergar Deus no olhar do outro, nas flores que aqui começam a aparecer, nas chuvas que lavam o carnaval no Brasil expondo a nossa indiferença e nos fazendo acordar para a necessidade dos fragilizados, como tantas vezes ordena a Torá. Aquele diálogo, contido na ação cotidiana e mundana, continha uma forte Presença Divina.


Que possamos abrir nossas almas para que Deus possa habitar entre nós. Que possamos ser, cada um de nós, um pequeno pedaço deste enorme Miskán.


Shabbat Shalom!

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