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Tazria / Metsorá - Vaicrá 12:1-15:33

A combinação das parashot Tazria e Metsorá é um dos maiores trechos sobre purificação que encontramos na Torá. A palavra usada em hebraico é tumá, que é comumente traduzida como impureza, contaminação, poluição ou sugeira, traz em si uma ideia invisível difícil de ser expressa em palavras. Tumá é a aura causada pelo contato com a morte, ou com o escape da vida. Uma aura tão forte que pode contaminar pessoas ao redor. Tumá pode ser causada pelo contato com cadáveres; carcaças; fluxos de fluidos de vida como o sangramento pós parto, o sangue menstrual, sêmen; e por um mal chamado tsará, erradamente traduzido como lepra, que na verdade é um descamamento de pele. Não há nada de demoníaco ou sobrenatural em tumá, nem com infecção ou sujeira. Tumá faz parte da vida humana, mas é preciso se purificar deste estado, para não causar o mal. O mal vem do fato de se manter em estado de tumá.


Como mulher, minha primeira reação à ideia de que alguém que deu à luz está impura parece, no mínimo, machista. Mas foram duas rabinas maravilhosas que me levaram a um pensamento muito mais bonito sobre como este texto tem um toque feminino sutil e importante.


A rabina Phillys Berman, lembrando de seu pós-parto, fala de como um momento de afastamento é importante depois que uma mulher dá à luz. Estamos cansadas, exauridas, doloridas. Precisamos aprender a lidar com aquele pequeno ser que depende de nós, conhecer aquela pessoa que chegou em nossas vidas. Os 40 dias que sucedem ao trabalho de parto são de recomposição física, emocional e estrutural da mulher, e de construção de um vínculo dela com o filho ou filha. Afastar, reconectar, e preparar para uma volta é necessário neste momento.


Por outro lado, a rabina Ilana Kurshan fala de como o parto está intrinsecamente ligado à morte. De como ainda hoje, o momento do parto traz, além da expectativa da alegria mais plena do mundo, um medo incontrolável de que algo de mal aconteça com a mãe ou a criança. No mundo antigo qualquer erro significava a morte. Então, nesta relação entre vida e morte, a aura se manifesta no sangramento pós parto, que expulsa o medo, e algumas vezes também a dor.


“A capacidade de dar à luz um filho é um grande privilégio, mas também um grande risco. Em um momento em que não podemos mais passar pelos rituais de purificação da Torá ou trazer sacrifícios a Deus, a consciência de nossa vulnerabilidade pode aumentar nossa apreciação pelo milagre do nascimento e pela santidade de toda nova vida” conclui a rabina Ilana.


Criar a vida é imitar o Divino, que criou o humano. Tornar o mundo sagrado e aumentar a vida é a tarefa humana. Criar vida e torná-la sagrada são tarefas árduas, que exigem muito e nos aproximam de nossa finitude, para nos lembrar que não somos divinas, mas humanas. Por isto nos afastamos, nos reconectamos e colocamos nossos pés novamente no chão; mergulhamos na água em um ritual de renascimento de nós mesmas, e finalmente estamos prontas para continuar a vida em família e em comunidade.


Que possamos reconhecer o divino e o mundano de cada uma de nós, que possamos respeitar nossos tempos e nossas necessidades. Que possamos fazer de nossas vidas sagradas com os pés no chão, reconhecendo a humanidade de cada uma de nós.


Shabat Shalom!





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