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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Tazria-Metsorá - Vaicra 12:1-15:33

Logo no início das parashiot combinadas Tazria e Metsorá que lemos esta semana, encontramos um pequeno conjunto de versos que fala sobre a impureza da mulher ao dar à luz um menino ou uma menina, com similaridades e diferenças para ambos os casos.


Por um motivo muito pessoal eu me foquei neste trecho nesta semana: meu filho mais velho, João, celebrou seu 22º aniversário, o que significa que há 22 anos eu me tornei mãe. Então, nada mais natural para mim do que refletir sobre este processo do dar à luz uma criança, e a relação deste momento com a impureza ritual.


A educadora de parto, doula de parto e pós-parto, e escritora Erika Davis reflete: “O parto em si é uma força misteriosa, poderosa e surpreendente da natureza [...] o próprio fato de nossos corpos criarem e sustentarem a vida é incompreensível. Ainda mais quando você pensa sobre como o nascimento deve ter parecido, cheirado e soado nos tempos bíblicos.”


Dar à luz a outra vida aproxima a mulher do que há de mais divino: criar a vida. No texto da Torá Eva fala sobre esta sensação, dizendo que adquiriu um humano, como Deus (ou com a ajuda de Deus, dependendo da tradução). Mas esta possibilidade divina da mulher de criar e gerar a vida pode ser muito perigosa. “Ao gerar filhos, as mulheres entram em contato íntimo com a criação divina. E porque dar à luz conecta uma mulher exclusivamente com a vida e a morte, a Torá a sujeita a leis especiais durante esse período” comenta a acadêmica Dr. Ellen Frankel. Essa conexão da vida com a morte aparece também em outro lugar do texto bíblico, quando Rachel, nossa matriarca, morre em consequência do parto de Benjamin.


Refletindo sobre o gerar a vida como ato divino e o perigo que ele envolve, me veio à cabeça a lenda de Ícaro, que voa em direção ao sol, e por isto morre. Criar a vida é divino, e o sangrar após o parto nos lembra da nossa condição humana, da fragilidade em que somos colocadas quando voamos tão perto do sol. Então, como a Torá comanda, fazemos oferendas agradecendo a bênção de gerar a vida e sairmos vivas desta experiência. Uma oferta de purificação, a outra de reconhecimento: voamos perto do sol e agora, ainda mais vivas, somos responsáveis por nutrir outra vida.


Que neste shabat sejamos capazes de reconhecer a bênção, a responsabilidade e o perigo de tudo aquilo que nos aproxima da possibilidade de sermos divinas.


Shabat Shalom!

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