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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Shemot - Shemot 1:1-6:1

Atualizado: 26 de dez. de 2021

Nesta semana iniciamos um novo livro da Torá. Um livro que conta a história de um povo que surge a partir de um clã, um povo que surge a partir da libertação. A narrativa inicia com um novo Faraó que não se lembra de Iossef, percebe que os israelitas se tornaram numerosos e os torna seus escravos. O Faraó então exige que todos os meninos israelitas sejam mortos ao nascer, primeiro através de uma ordem para as parteiras Shifra e Pua, depois para os próprios israelitas. A mãe de Moshé esconde seu filho ao nascer, e quando se torna impossível escondê-lo, coloca seu filho em uma cesta no rio, com a ajuda de sua filha. O menino é salvo pela filha do Faraó, que o cria no palácio, como filho dela. Quando adulto, Moshé mata um feitor egípcio que estava batendo em um escravo israelita. Moshé foge para Midian e se casa com Tsipora. Deus aparece diante de Moshé em uma sarça ardente e diz a ele para libertar os israelitas da escravidão. Um apreensivo Moshé retorna ao Egito, onde ele e seu irmão Aharon exigem que o Faraó liberte os escravos israelitas. Faraó se recusa e endurece ainda mais a vida dos israelitas.


Como ressalta o rabino Gunther Plaut em seu comentário à parashat Shemot no Chumash, “Alguns veem o prólogo como um drama encenado por e com mulheres: as mulheres de Israel são férteis; sua fertilidade é a preocupação e o alvo do Faraó; e seus planos são neutralizados pelas parteiras, por Miriam e Iocheved e pela filha do Faraó. Moisés é salvo por mulheres no seu nascimento, e antes de sair em sua missão será salvo por sua mulher, Tsipora. O Midrash diz: Israel foi resgatado por causa de suas mulheres justas”[i] Em uma única parashá, a ação de seis mulheres muda o curso de toda a história dos israelitas, algo inusitado no texto bíblico, e que deve ser ressaltado, como bem disse um sábio e querido congregante da ARI.


Realmente, a parashat Shemot é recheada de heroínas, mulheres comuns, mas que exibem uma coragem extraordinária. As parteiras desobedecem ao Faraó. Iocheved esconde Moshé, que e então é salvo por sua irmã Miriam e a filha do Faraó, que o adota como seu próprio filho e cria Moshé no palácio egípcio. Shifra, Pua, Iocheved, Miriam e Batia – a filha do Faraó, todas têm força para desobedecer a um decreto maligno e proteger a vida. Elas não foram encorajadas a fazer o que fizeram de uma fonte externa e não consultaram um manual de moral. Elas tinham um forte senso de certo e errado e agiam de acordo com essa bússola interna, eram mulheres justas, de Israel e Mitsraim.


O protagonismo e importância destas mulheres teve, por muito tempo, a atenção desviada pelos textos tradicionais. De acordo com estudos modernos, liderados pelo núcleo de Talmud e Midrash do Centro Interdisciplinar de Pesquisa Genizah na Universidade de Haifa, o fenômeno pode atribuído ao medo em virtude do antissemitismo, que tentou apagar os atos virtuosos de não israelitas de nossa tradição, como a influência de um mundo machista, no qual as comunidades judaicas estavam inseridas. A importância de se ressaltar os atos destas mulheres em nosso texto bíblico reside justamente no efeito empoderador que a existência destas heroínas possíveis gera para nossas meninas.


“Heróis nos inspiram. Eles nos levam à ação quando, de outra forma, poderíamos permanecer estagnados. Eles são especialmente importantes para as crianças, que precisam de modelos de comportamento enquanto descobrem como querem viver no mundo. Quanto mais expomos nossos filhos e filhas àqueles que agem com um senso interno de certo e errado, mais eles e elas desenvolverão suas próprias bússolas morais internas” ressalta a rabina Dianne Cohler-Esses.


Hoje, vivemos um momento de despertar o reconhecimento social da vida das mulheres, da dignidade das mulheres, da esperança, da coragem, da força e da vida das mulheres. A leitura da Parashat Shemot nos lembra de que as mulheres não podem ser ignoradas ou apagadas. É justamente na vida das mulheres que começa a história humana. Em Shemot as mulheres são modelos da coragem necessária para afirmar a vida e a luz, mesmo na sombra da morte e das trevas. Moshé não poderia ter tido um único momento de bravura diante do Faraó, não fosse pela bravura das mulheres que o trouxeram coletivamente ao mundo, o protegeram, o salvaram, o nutriram e o criaram sob grande risco.


Ao colocarmos o foco da história de Shemot no protagonismo destas seis mulheres: Shifra, Pua, Iocheved, Miriam, Batia e Tsipora estamos fornecendo a outras mulheres a força e a coragem para agirem e se tornarem também protagonistas de suas histórias.


Shabat Shalom!


[i] A Torá, Um Comentário Moderno - UJR

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