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Shemini Atzeret

Nas quatro passagens onde a Torá recita as festas de peregrinação, Shemini Atzeret aparece apenas duas vezes. Em Vaicrá - Levítico, Deus diz a Moisés para explicar aos israelitas: “No oitavo dia, você observará uma assembléia sagrada e trará uma oferta de fogo ao Senhor; é uma reunião solene; você não deve trabalhar em suas ocupações.” Já em Bamidbar - Números, que lemos hoje no maftir, está escrito: “No oitavo dia você realizará uma reunião solene; você não deve trabalhar em suas ocupações. Apresentareis uma oferta queimada de cheiro agradável ao Senhor”.


Durante o período do Segundo Templo, o costume era rezar por chuva pela primeira vez a cada ano em Shemini Atzeret. A Mishná explica que a chuva durante Sucot encharcaria a sucá com telhado de folhagem, e assim pareceria para aqueles que viviam lá como uma maldição em vez de uma bênção. Portanto, a oração pela chuva deve esperar até que o momento de habitar a sucá tenha acabado.


Em Israel e algumas comunidades reformistas do mundo, Shemini Atzeret e Simchát Torá são combinados em um feriado no dia seguinte à conclusão de Sucot. Em diversas comunidades fora de Israel, eles são observados separadamente um do outro em dois dias consecutivos, como fazemos aqui na ARI. Enquanto a leitura da haftará nos traz o rei Salomão justamente festejando sucot e shemini atzeret, na inauguração do Templo de Jerusalém, a leitura da Torá para Shemini Atzeret traz uma mensagem quase profética para o chag:


“Se, no entanto, houver uma pessoa necessitada em seu meio, um de seus parentes em qualquer um de seus assentamentos na terra que o Eterno seu Deus lhe dá, não endureça seu coração nem feche sua mão para seu parente necessitado. Ao contrário, você deve abrir sua mão e emprestar o que for suficiente para satisfazer sua necessidade.”


Além do auxílio aos que estão em situação de fragilidade financeira, a leitura da Torá traz dois sistemas pelos quais a pobreza será aliviada: remissão de dívidas no sétimo ano e a libertação de escravos. Ambas falam sobre as maneiras pelas quais a pobreza foi perpetuada nos tempos bíblicos e, até certo ponto, na vida moderna.


Nos tempos antigos, a escravidão costumava estar intimamente ligada à dívida. Pessoas eram vendidas como escravas para pagar dívidas. Outros “escolhiam” a escravidão como alternativa à extrema pobreza porque ela prometia subsistência básica - abrigo, comida e proteção. No entanto, dentro da nação de Israel, a dívida e a escravidão foram estruturadas como estados temporários, não destinos permanentes. A cada sete anos, escravos e devedores tinham o direito de ser libertados.


O mandamento de fornecer aos escravos libertos os meios de ganhar a vida - um pouco de comida, alguns animais e alguns utensílios domésticos básicos - também era único, combinando a libertação pessoal com a independência econômica. A noção de redimir escravos e libertá-los para uma vida de possibilidades reflete uma das promessas originais de Deus a Israel - de nos libertar da escravidão.


Acabamos de entrar no ano de shmitá. Um ano de descanso da terra, de libertação de escravos e perdão de dívidas. Um ano em que somos convidados a pensar mais profundamente em como libertar as pessoas das situações que as limitam, as escravizam, as colocam em situação de fragilidade. Um ano de pensarmos na terra e qual impacto que provocamos nela.


Nos últimos anos, um movimento crescente de pensadores e ativistas apontou para a Shemita como um meio de abordar os problemas ambientais globais e a instabilidade econômica desafiando as expectativas contemporâneas de crescimento econômico contínuo, desenvolvimento e ganhos individuais.


Quase na reta final de nossas Grandes Festas, chaguei Tishrei, em que nos observamos, nos colocamos em um lugar frágil, nos demos conta da fragilidade do outro, Shemini Atzeret, este chag em que pedimos por chuva, pensando no florescer da terra, nos faz refletir sobre como buscar meios para dar dignidade para quem vive em situação de fragilidade. Finalizamos o ano pensando em nós mesmos, iniciamos o ano pensando nos outros.


Neste momento, quando no hemisfério norte as pessoas se preparam para a introspecção do inverno e nós nos preparamos para as cores do verão, todos rezamos por chuvas no tamanho certo, chuvas que trazem a vida, a prosperidade. Que possamos nos inspirar, neste ano de shmitá, a construir um mundo melhor, com uma sociedade que funcione para todos, com bênçãos em tamanho suficiente para todos.



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