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Shabat Shirá


עָזִּ֤י וְזִמְרָת֙ יָ֔הּ וַֽיְהִי־לִ֖י לִֽישׁוּעָ֑ה[i]


Shabat Shirá, o shabat da música. De uma maneira muito simbólica, este é um shabat que ressalta o feminino dos textos que nele são lidos. Se na parashá Miriam não somente é mencionada por seu nome pela primeira vez, mas também é indicada como profetiza, a haftará conta a história de Dvora, a profetiza que auxilia Barak na batalha, e indica que a vitória virá pelas mãos de uma mulher: Yael.


O que liga estas duas profetizas é a música. A música que celebra a vitória, que é dançada e tocada pelas mulheres, que traz alegria para todos ao redor. Este era um dos papéis das mulheres nos tempos antigos: cantar, dançar, celebrar vitórias, agradecendo e reconhecendo a proteção divina nos tempos de guerra.


O canto de Dvora, é um canto de vitória e reconhecimento, reconhecimento pelo feito de Yael, pela força e esperteza de uma mulher, que trouxe a vitória para o povo de Israel. O canto de uma profetiza, uma juíza, líder que não temeu ir à guerra com seu exército.


Já "O Az Yashir” explica o médico e comentarista bíblico italiano do século XV, Obadia Sforno “ocorreu quando os cavalos do Faraó entraram com seus carros e cavaleiros no mar, e Deus, o Abençoado, os afogou enquanto os Filhos de Israel ainda andavam em terra seca no meio do mar. Antes de saírem, começaram a cantar.". O canto, no caso de Shirat haIam, mais do que um simples reconhecimento do acontecido, funcionou como a força final para os israelitas superarem o medo e continuarem a andar. Dá para imaginar o susto e medo que eles sentiram, ao ver o mar ir fechando atrás deles, engolindo o poderoso Faraó e seu exército?


Quando meus filhos eram menores, e o mundo era outro – nós podíamos viajar! – fomos uma vez escalar um vulcão com eles, na Nova Zelândia – confesso que nunca tivemos muita noção dos limites das crianças, e ainda bem que aproveitamos a possibilidade de viajar, e o tempo deles conosco enquanto pequenos! Em um dado momento da caminhada, a minha filha mais nova, Nina, ficou já muito cansada, e não conseguia mais caminhar a subida. Começamos a cantar músicas que ela conhecia, músicas que só eu conhecia, e assim, morro acima, fomos cantando juntas, até que atingimos o cume!


Cantar dá força, ou como disse Érico Veríssimo, e cantou Dorival Caymmi:

“Quem canta refresca a alma

Cantar adoça o sofrer

Quem canta zomba da morte

Cantar ajuda a viver

Quem canta seu mal espanta

Eu canto pra não morrer”


E assim os israelitas cantaram e marcharam com Moshé e depois com Miriam. Por que Miriam cantou após Moshé? De acordo com o Lutzker Rav, “Miriam não cantou uma música nova. Ela e as mulheres apenas repetiam o canto de Moshé com maior vivacidade e emoção, com tambores e danças……. Era a mesma música, mas com uma concentração intensa e um fervor sagrado que ultrapassava o dos homens.”[ii]


Neste caso, a música seria um meio para uma conexão mais profunda com o divino, um transe místico, como um gospel negro americano que conhecemos hoje, um mantra indiano, ou mesmo um nigun tradicional judaico, que nos leva a um lugar desconectado com a realidade, e conectado com algo mais profundo e divino. Uma oração que nos leva a outra dimensão.


A acadêmica Ilana Kurshan sugere que “Os israelitas no mar já começaram a aprender o que significa ser livre. Eles não precisam afundar no desespero, ou retornar à servidão, ou render todo o seu arbítrio e esperar a libertação de Deus. Ser livre é perceber que somos os autores de nossa própria história - somos os artífices do mundo em que cantamos. Esperamos contra a esperança como sinal não de tolice, mas de fé e fortaleza. É preciso coragem para caminhar cantando para a frente, para um mundo com o qual só podemos sonhar.”


Quando rezamos reconhecemos, pedimos e agradecemos. Podemos recitar, podemos cantilar no nussach (ritmo tradicional), mas podemos deixar a alma dançar com o ritmo de nossas orações e chegar mais longe. Podemos nos entregar ao nigun, ao canto da alma, às novas melodias.


עָזִּ֤י וְזִמְרָת֙ יָ֔הּ וַֽיְהִי־לִ֖י לִֽישׁוּעָ֑ה[iii]



[i] Shemot 15:2 [ii] (Insights of Torah, p.168) [iii] Shemot 15:2

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