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Segundo Shabat de Pessach – Shirat haIamShemot 13:17-15:26

A leitura da Torá deste shabat descreve as experiências de Israel após a saída de Mitsraim. Deus endurece o coração do Faraó que mobiliza o exército egípcio e começa sua perseguição aos israelitas em fuga. Quando Moshé e os filhos de Israel chegam ao Mar dos Juncos, Moshé ergue sua vara, as águas se separam e os israelitas são milagrosamente salvos. Quando os egípcios chegam à água, Moshé abaixa sua vara, fazendo com que eles afundem e se afoguem. Moshé, Miriam e os filhos de Israel cantam um magnífico cântico de ação de graças, a canção do mar, ou Shirat haIam.


De acordo com a tradição rabínica da cronologia dos eventos do Êxodo, os egípcios perseguidores encontraram sua morte final durante a noite do sétimo dia, após o que, ao amanhecer, Moshé e Miriam lideraram os israelitas na celebração traduzida por Shirat haIam . Como o dia 7 do Êxodo corresponde ao sétimo dia do festival de Pesach, os chachamim (sábios) indicaram justamente este trecho para ser lido em Pessach.[i]


Apesar de o texto bíblico atribuir o poema a Moshé, com a versão de Miriam considerada uma resposta musical, existe uma série indicativos para a possibilidade de que, de uma perspectiva histórica da tradição, o poema fosse de Miriam antes de ser de Moshé. Esta teoria se baseia tanto nos escritos dos rolos do Mar Morto (descoberta histórica de textos antiquíssimos em cavernas perto do Mar Morto[ii]), como no conhecimento histórico de que o texto tem todos os indicativos para atribuir sua autoria ao gênero feminino, o que pode ser reforçado por outras passagens bíblicas similares. A Canção do Mar – Shirat haIam - é um exemplo bíblico proeminente do gênero de performance de uma mulher: canto, dança e tambores. Sua atribuição a Miriam significa que esta mensagem poderosa e talvez mais antiga sobre o poder de Deus usado para salvar o povo é dada por uma mulher.


A importância deste texto é de tal magnitude, que passamos a utilizá-lo em nossa liturgia diária matinal, entre Pesukei deZimrá - os versos de louvor recitados como preparação para a oração - e o Barechu de Shacharit, que conclama o serviço da manhã. Assim, Shirat Hayam marca a transição do individual para o coletivo, dando voz tanto ao milagre da libertação nacional quanto ao poder da oração comunitária.


Quando Shirat haIam é lido da Torá, toda a congregação deve se levantar, a melodia é especial, e até mesmo o rolo da Torá reflete o milagre da travessia: as palavras da canção são escritas em um layout escalonado no pergaminho – partido como o mar com o povo a caminhar ao meio – como um tributo do escriba ao evento.


Quem já precisou sair de um lugar estreito e escuro, um Mitsraim, sabe que quando reconhecemos nossa chegada ao outro lado, na maioria das vezes é acompanhada de lágrimas de alívio e exaustão. Shirat haIam nos ensina que também devemos nos lembrar de cantar.


Atravessar o mar em comunidade é um encerramento adequado para chag haPessach, e é uma carga para todos nós continuarmos a buscar a liberdade em todas as suas formas. A canção que os israelitas cantaram é tanto nossa herança quanto a causa da liberdade. Este caminho que percorremos não é sem sangue e suor, mas também somos obrigados a preenchê-lo com os sons da alegria. Mais ainda, se no princípio do Êxodo e do Pessach, o foco é no núcleo familiar: na proteção da casa com o sacrifício pascal e no seder; o final do chag traz a consciência da importância da comunidade maior, que se une, se levanta e cruza o mar em conjunto.


Shabat Shalom!




[i] Talmud Bavli, Meguila 31a [ii] https://www.deadseascrolls.org.il/home

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