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Parashá Vaietsê - Bereshit 28:10-32:3

Vaietsê conta a história da formação da família de Iaacov. Fugido de sua terra, e à procura de uma esposa, ele volta à terra de sua mãe, e encontra nas filhas de Laban que se tornam suas esposas. Primeiro ele se apaixona por Rachel no poço, trabalha por ela, recebe Lea e somente após recebe Rachel por mais tempo de serviço. Inicia-se uma epopeia de filhos de Lea, dificuldades de Rachel para engravidar e a luta pelo amor de Iaacov através dos filhos das esposas e das concubinas. Após Rachel ter seu primeiro filho, Iaacov decide voltar para sua terra. Recebe gado de Laban – claro, com uma história mirabolante envolvida para este recebimento! – e sai escondido com suas esposas, filhos, gados e tudo. Nesta saída, Rachel decide pegar os ídolos domésticos de seu pai.


Participando do grupo de estudos da Torá esta semana, uma senhora que admiro muito, a Clara, reivindicou por Rachel uma defesa. O questionamento dela era que Rachel não poderia ser tratada como ladra, e que não estávamos procurando o porquê de ela ter feito isto. Não era o meu ponto de reflexão da parashá esta semana, mas resolvi me deixar inspirar pela Clara, que se chama Rachel em hebraico, e que é uma mulher forte, incrível, e cheia de sabedoria trazida pelos anos.


As explicações tradicionais a este trecho, que obviamente incomodou muito a nossos rabinos, dividem-se em duas principais linhas: na primeira, Rachel era idólatra; na segunda, Rachel tentou livrar seu pai da idolatria com este último ato desesperado na sua saída . Em interpretações mais modernas, há quem sustente que Rachel, tendo sido criada em um ambiente idólatra, mas sabendo que agora deveria seguir o Deus de Iaacov, levou consigo um “plano B” ou, ainda acreditava que haveria a possibilidade de aqueles ídolos ajudarem seu pai a encontrar Iaacov e sua caravana, tendo assim tentado defender sua família. A rabina Joyce Newmark traz uma outra possibilidade: "Ela os levou para se lembrar de casa, assim como um estudante universitário mantém um animal de pelúcia sujo na cama do seu dormitório?"


Historicamente, a questão do monoteísmo judaico é bastante complexa. Em I Samuel 19:13 lemos que Michal, filha de Saul, colocou um ídolo doméstico sob o travesseiro do pai. Evidências arqueológicas sobre o uso de ídolos pelos israelitas é revelado em um estudo interessantíssimo da arqueóloga Eilat Mazar, que prova a existência destas imagens em especial para fertilidade e proteção no parto.


Para mim, surgiu um pensamento profundo sobre a dificuldade em deixar tudo para trás, em recomeçar uma nova vida. Rachel está indo com seu marido, que a ama, sua irmã com quem tem uma forte rivalidade, sem se despedir de sua família, para o incerto, sua única certeza era de que não voltaria para a casa de seu pai. Por mais que amasse Iaacov e quão segura estivesse da decisão de seguir seu marido, o que fica bastante claro no texto bíblico, a insegurança só poderia ser grande. O fato de Rachel ter levado consigo um pedaço importante de sua vida familiar consigo, pode ser visto como um indicativo de todos os sentimentos que faziam parte de quem ela era: apaixonada, insegura, ávida por uma família que fosse dela, realmente dela. Parece que todos estes sentimentos juntos não possibilitaram que Rachel fosse feliz. Ela aparece como uma mulher sempre em busca do que não tem, e sem a capacidade de olhar e agradecer por tudo o que realmente tem.

Em sua humanidade, em seu ato de apego à vida familiar passada e receio do que havia por vir; em sua incapacidade de enxergar com alegria o que tinha: um marido que a amava e, posteriormente, um filho, Rachel se condenou a uma vida infeliz e incompleta. E, talvez, por sua insegurança, ela tenha sido condenada a pagar com sua vida por este erro, morrendo no parto de Benjamin .


Raquel nos ensina a importância de realmente enxergar as coisas boas que temos na vida. De nossa responsabilidade em sermos felizes, ou nos alegrarmos e reconhecermos os momentos felizes, o amor, a família, a maternidade, as oportunidades. Raquel nos mostra a importância de construirmos para nós mesmas vidas boas e completas, com aquilo que a vida nos oferece.


Que possamos aprender com a lição da vida de Rachel, e que possamos sempre estar atentos aos chamados para o estudo. Obrigada Clara!


Shabat Shalom

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