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Parashá Vaicrá – Vaicrá 1:1-5:26

Começamos um novo livro, Vaicrá. Contamos como nos tornamos um clã, através das narrativas de Bereshit. Então, fora de nossa terra, nos tornamos um povo, em Shemot, e iniciamos o retorno ao nosso território. Ao nos tornarmos povo, recebemos leis, e agora devemos estabelecer as regras para a convivência, o relacionamento do povo entre si, e deste povo com seu soberano: Deus.


Em Bershit aprendemos que não é bom estar sozinho – lo tov heiot haadam levado – aprendemos que é necessária uma força contrária que nos leve para frente: ezer kenegdo. Em Shemot aprendemos que cada um de nós é meio shekel, somos parte de um todo, igualmente importantes na construção comunitária. Começamos Vaicrá com as leis de korbanot, comumente traduzidos como sacrifícios, mas que são mais bem traduzidos como oferendas. O que elas vêm nos ensinar?


É verdade que as descrições das oferendas queimadas de animais são um tanto pesadas para nós, humanos do século 21. É difícil passar a imagem descrita para mergulharmos no texto e atingirmos a mensagem que ele nos traz.


“As primeiras quatro letras [de Vaicrá na Torá] são escritas normalmente, mas a letra final (um alef silencioso) mostra uma peculiaridade. Está escrito em uma fonte menor, claramente com metade do tamanho das letras ao seu redor. Visto que nossa tradição ensina que nada na Torá é supérfluo, então não apenas cada letra tem significado, mas até a maneira como cada letra é escrita nos ensina uma lição. Embora existam muitas explicações para a anomalia do minúsculo alef, uma interpretação é que Deus está modelando boas habilidades de comunicação. (...) Há muitos outros indícios de que este livro é, em essência, sobre relacionamentos, e que a lei, os sacrifícios e os cohanim são apenas os meios pelos quais podemos alcançar a desejada intimidade do relacionamento. Todo o conceito de sacrifício, de fato, aponta para o desejo de relacionamento. A palavra para "sacrifício", korbán, vem da raiz k-r-b, que significa "aproximar-se".” Sugere a rabina americana Shoshana Gelfand


O korbán então é um diálogo entre humanos e o divino, não somente com a intenção de pedir perdão, corrigir atos que sabemos que fizemos errados, mas também para pedir perdão pelos atos que cometemos e não nos demos conta, ou ainda, para agradecer pelas coisas boas que aconteceram: colheita, filhos. Um diálogo que foi substituído pela reza, pela meditação, pela canção.


No entanto, para mais além de ser uma conversa com o Divino, o korbán também é uma forma de mostrar à comunidade seu arrependimento, sua busca por correção do erro. Vivemos em comunidade, e nossos atos não ferem somente a nós mesmos, ou a quem fizemos mal diretamente, mas fere toda a comunidade. É preciso tirar o mal do acampamento, e isto se faz através da redenção dos erros, dos pecados. Isto se faz com atos de bondade, com atos de arrependimento, com o diálogo com o divino: Teshuvá, Tfilá e Tsedaká.


Uma comunidade tem que permitir que seus líderes reconheçam seus erros e possam se arrepender deles. O comentarista francês medieval Rashi diz que “Feliz é a geração cujo líder se preocupa em trazer um sacrifício de expiação mesmo por um ato inadvertido dele; quanto mais certo é que ele fará penitência por seus pecados intencionais.” Como gostaríamos de ver nossos líderes de hoje revendo seus atos e redirecionando suas políticas para o bem de todos!


“Ao trazer o sacrifício de purificação, o indivíduo, o líder e a comunidade sinalizam que desejam lutar contra o pecado e não permitir que o mal se torne normativo ou dominante. Eles sinalizam que não ficar atento é um ato tão grave quanto pecar abertamente, porque permite que as más ações passem despercebidas e o mal penetre profundamente na comunidade. Em todas as sociedades, deve-se terminar por compreender e fazer com que as pessoas se esforcem e lutem pelo bem.”


E chamou – Vaicrá – é um chamado para cada um de nós estarmos constantemente atentos para o que fazemos e como fazemos, de que nossos atos atingem o meio em que vivemos, e que temos a responsabilidade coletiva de olhar para o nosso entorno a partir de nós mesmos, de nossos atos. Vaicrá é um chamado para um constante diálogo com Deus e com a comunidade.

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