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Parashá Vaerá - Shemot 6:2 - 9:35

A parashá Vaerá nos leva ao início da história das pragas no Egito. Uma história que não só lemos na Torá, mas também contamos anualmente em Pessach aos nossos filhos, conforme ouvimos de nossos pais, que por sua vez ouviram de seus pais. O interessante é que a história que contamos à mesa do seder, didaticamente para que as crianças se envolvam e aprendam, acaba por nos afastar da história contada no texto bíblico. Pequenos detalhes retirados para tornar a história mais “contável”, acabam por deixar o texto raso e sem nuances. Aceitamos por diversos anos a história da mesa de seder, até nos depararmos com o texto bíblico e descobrirmos que há muito mais nesta história! Quem conta que as primeiras duas pragas foram copiadas pelos mágicos do Faraó, tornando a situação muito pior para todos? E que a partir da quarta praga somente os egípcios foram atingidos, nas anteriores todos, inclusive os bnei israel foram impactados.


Na Torá também vemos discrepâncias na história das pragas (ou sinais e maravilhas, como são chamadas no texto bíblico). Já na primeira podemos ver inconsistências entre o gesto que faz a praga acontecer e se ela é desencadeada por Moshé ou Aharon. Acadêmicos explicam estas inconsistências através da hipótese documental, um estudo que tem seu início no Século 18, e cujo maior expoente é o acadêmico Richard Elliott Friedman, que identificou diversos estilos literários distintos dentro do texto bíblico, incluindo-se nestas fontes um editor do texto. Pelo menos quatro histórias diferentes foram unidas para que o texto chegasse ao que temos hoje. Por que isto seria feito? Porque as histórias eram contadas oralmente, até que tenham sido compiladas. Não era possível tirar esta ou aquela história que faziam parte da tradição de uma ou outra corrente. Era preciso juntar tudo em uma narrativa que fizesse sentido, para que esta fosse a ligação, o fundamento do povo israelita.


Contar histórias é um dos meios mais poderosos para influenciar, ensinar e inspirar. As histórias transmitem a cultura, a história e os valores que unem as pessoas. Quando se trata de nossos países, nossas comunidades e nossas famílias, entendemos intuitivamente que as histórias que temos em comum são uma parte importante dos laços que nos unem. Está na nossa natureza contar histórias, e está na nossa natureza ouvir histórias e, desde que a escrita foi desenvolvida, está na nossa natureza registrar histórias.


Há 79 anos, no Rio de Janeiro, um grupo de judeus majoritariamente alemães iniciava uma nova história, a da ARI, com o auxílio do rabino Henrique Lemle zl, que havia sido enviado ao Rio de Janeiro pela WUPJ com este propósito específico. Ao longo dos seus 79 anos, diversas histórias se entrelaçaram com a história da ARI. Histórias profissionais de rabinos, chazanim, morim e tantas outras pessoas. Histórias familiares de encontros e desencontros e cerimônias religiosas. Histórias de amor e também de guerras.


Para muito além do registro contado na homepage do site, a história da ARI se faz das diversas histórias contadas e entrelaçadas daquelas pessoas que estiveram aqui antes e durante os últimos 79 anos. A história da ARI continuará se fazendo nos próximos muitos anos, com os descendentes dos personagens do passado, e outros personagens que se juntaram e se juntarão no futuro.


Compilar e tecer estas histórias. Contar para nossos filhos e para os filhos de nossos filhos como Iocheved se casou com seu sobrinho Amram e tiveram 3 filhos que, juntos, mas com o protagonismo de Moshé, guiados e ajudados pela mão forte de Deus e muitos sinais e feitos maravilhosos levaram os filhos de Israel à liberdade. Como, muitos anos depois, um mal indescritível caiu sobre os judeus na Europa e como vários destes sobreviventes encontraram a liberdade e a possibilidade de recomeçar aqui no Brasil, no Rio de Janeiro. Contar como a ARI vem sendo a casa desta descendência, sua importância e todas as histórias que aqui aconteceram. Mas, principalmente ensinar que está nas mãos deles, os nossos filhos e filhos de nossos filhos, continuar a construir e contar esta história.



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