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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Parashá Terumá - Shemot 25:1-27:19

A parashá desta semana, Trumá, parece mais um manual de construção de móveis da Tok-Stok, Ikea ou semelhante, do que uma mensagem divina. É difícil para o leitor moderno se relacionar com aquela lista infinita de partes que devem ser produzidas para a construção do Mikdash. Talvez por isto, a maior parte dos comentários feitos a esta parashá falem sobre a questão da doação movida pelo coração, dos itens necessários para a tal construção.


Eu leio esta parashá com um nigun na cabeça, um que eu gosto muito e já cantei aqui antes:


“Ve'asu li mikdash veshachanti betocham.

Va'anachnu nevarech yah me'atah ve'ad olam.

Lord prepare me, to be a sanctuary,

pure and holy tried and true.

With thanksgiving I’ll be a living Sanctuary for You.”


Além de conter a frase mandamento desta parashá: “Façam para mim um mikdash para Eu conviver entre vocês”, e ter uma melodia linda, sua mensagem vai muito além das suas poucas palavras. Da ordem Divina de construir um mikdash, vem a resposta coletiva de que nossa relação comunitária com Deus será para a eternidade. Para tanto, pedimos individualmente, para que sejamos, cada um de nós, puro e sagrado. Pedimos pela generosidade de nossos corações e assim seremos santuários.


Do coletivo para o particular, do genérico para o detalhe. Todos os Israelitas são chamados a contribuir com os itens necessários para a construção do Mikdash, cada um de acordo com a generosidade de seu coração, e depois com suas habilidades, a colaborar com cada detalhe do projeto, conforme descrito por Deus em Trumá.


Lawrence Kushner coloca que “na construção do Tabernáculo, todo o Israel estava unido em seus corações; ninguém se sentia superior ao seu companheiro. No início, cada indivíduo habilidoso fazia sua parte na construção, e parecia a cada um que seu trabalho era extraordinário. Depois, eles viram como suas várias contribuições para o “serviço” do tabernáculo foram integradas - todas as tábuas, as bases, as cortinas e as alças se encaixavam como se uma pessoa tivesse feito tudo. Então eles perceberam como cada um deles dependia do outro.”


Para os israelitas, que viviam entre povos politeístas, que tinham deuses que podiam ser vistos, tocados e sentidos, era importante ter algo palpável para tornar a espiritualidade possível. Era preciso evoluir nesta relação, desde a forma visível do local de manifestação Divina até o ponto da reza sem palavras, ideal segundo Maimônides.


“Uma montanha é composta de pequenos grãos de terra. O oceano é feito de pequenas gotas de água. A vida é apenas uma série infinita de pequenos detalhes, ações, discursos e pensamentos. E as consequências, boas ou más, até mesmo do menor deles, são de longo alcance.” Explicou o Swami Sivananda. Assim, a possibilidade de tecer um pedaço de um tecido para compor a morada Divina na Terra, e fazer desta algo “seu” foi o que tornou possível aos Israelitas se sentirem verdadeiramente parte do pacto, e acreditarem que seus caminhos estavam abençoados e protegidos. Cada um, de acordo com sua possibilidade doou um pedaço de seu coração para o projeto.


Conta um midrash, que uma vez um jovem que queria aprender o segredo da felicidade soube que havia um homem sábio a vários dias de viagem, e então ele foi até a casa do homem. E quando ele chegou lá, ele descobriu que era um palácio grande, muito bonito e cheio de atividades. E ele entrou no palácio, encontrou o homem sábio, e esperou sua vez.


E quando ele chegou à frente da fila e falou com o homem, ele disse, estou aqui, porque ouvi dizer que você pode me contar o segredo da felicidade. E o sábio disse, na verdade, estou muito ocupado hoje, e não tenho tempo agora para ensinar esse segredo. Mas você sabe, em algumas horas, gostaria que você voltasse. Portanto, quero que você ande pela minha casa e dê uma olhada. Há muitas coisas bonitas para ver aqui.


Enquanto você está fazendo isso, quero lhe dar algo para fazer, e ele lhe entregou uma colher. E ele colocou na colher duas gotas de óleo. E o sábio disse ao jovem, enquanto você estiver andando pela minha casa, fique de olho no óleo. Não deixe cair da colher. Então o jovem fez o que lhe foi dito. Ele subia e descia escadas, entrava e saía de quartos, passava por jardins, o tempo todo mantendo os olhos fixos nas gotas de óleo na colher, certificando-se de que não derramavam.


Duas horas depois, ele voltou ao quarto do sábio, que o cumprimentou e disse: minha casa não era maravilhosa? Você não viu tantas coisas boas? Você viu as tapeçarias e o grande salão e meus belos jardins? Você viu os livros da minha biblioteca, os manuscritos antigos? E o menino ficou um pouco envergonhado. Ele teve que admitir que havia andado, mas apenas olhou para o óleo na colher. O homem disse, não, não, não, isso não pode ser. Você deve ver as maravilhas da minha casa. Em seguida, ele devolveu a colher com o óleo e disse, certifique-se de olhar para todas as coisas maravilhosas que minha casa tem a oferecer.


Assim, o menino novamente caminhou ao redor da casa, escada acima e abaixo, olhando e maravilhando-se com as belas tapeçarias e os jardins e os livros e vendo tudo o que havia para ver. E duas horas depois, ele voltou à sala do homem sábio, olhou para a colher e viu que o óleo havia acabado. Ele ficou constrangido de novo, mas o sábio olhou para ele e disse: Acabo de lhe ensinar o segredo da felicidade. É ver e vivenciar tudo o que há na beleza do mundo e guardar as duas gotas de óleo na colher.


A construção do sagrado depende de nos doarmos para a tarefa, de fisicamente nos envolvermos na ação, de termos a noção do todo, da comunidade, mas ao mesmo tempo termos em mente a importância de cada pessoa. Olharmos a beleza do mundo, mas entendermos da importância das gotinhas de óleo na nossa colher. De sabermos do impacto de cada gota de água e cada grão de areia para a existência do Oceano. Que possamos ser, cada um de nós um santuário, para que juntos possamos fazer da nossa comunidade um Mikdash.

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