Começamos um novo ciclo. Novamente o mundo é criado em 6 dias, no sétimo Deus descansa. Novamente Adam é criado à imagem e semelhança divina, homem e mulher, e novamente a mulher é criada, em outra história, a partir da lateral do homem, para ser sua força contrária. Novamente comemos o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, saímos do Gan Eden, Caim mata Abel, iniciando a eterna crise entre irmãos, a humanidade cresce e procria. Tantas histórias em tão pouco texto, tantos assuntos para falar. Tanto pensei sobre esta parashá, e hoje, ao lê-la, foi o início do capítulo 6 que me chamou atenção:
“Agora que as pessoas se multiplicavam pela terra, nasciam-lhe filhas, e quando os seres divinos viram quão belas eram as mulheres humanas, tomaram esposas para si, segundo sua escolha. Então o Eterno disse: “Meu espírito não se responsabilizará pelos humanos para sempre, pois eles são somente carne fraca – seu tempo de vida será [de apenas] 120 anos”. Naqueles dias, os Nefilim andavam pela terra; mais tarde, quando os seres divinos se uniram às mulheres humanas, elas lhes conceberam aqueles heróis que desde os tempos antigos ganharam grande renome.”
Minha primeira leitura do texto me fez reagir imediatamente: porque as filhas dos homens eram belas, chamaram a atenção dos seres divinos que as tomavam para esposas e Deus resolve que os humanos têm a carne fraca?
De acordo com o comentarista Radak, “não havia realmente necessidade de nos dizer que nasciam filhas, visto que a espécie não pode sobreviver sem machos e fêmeas. Toda a história diz respeito às mulheres, visto que a elite masculina cometeu o erro de casar-se com mulheres fisicamente atraentes, mas moralmente inferiores, como resultado do que toda a raça humana se tornou progressivamente mais corrupta.”
Mas também encontrei Rambam, que disse: “E eles tomaram para si esposas à força. Segundo sua escolha, até mulheres casadas. Assim, a Escritura cita apenas o crime violento como a razão para o dilúvio, porque é proibido apenas pela razão.
Se, por um lado, Radak reforça e piora a ideia de culpa das mulheres por terem sido violentadas, Rambam explicitamente trata o fato como crime violento, tão abominante que faz Deus se arrepender de sua criação, se entristecer e decidir acabar com a humanidade.
Mulheres belas foram tomadas por seres divinos, deste abuso surgiram os nefilim, seres sobrenaturais, gigantes, que assustaram os israelitas por todo o Tanach. De certa forma, a descrição dos nefilim me faz pensar em jogadores de basquete, gigantes, que são heróis renomados, venerados por suas conquistas. Quase sobrenaturais em suas capacidades esportivas.
Assim como ainda podemos encontrar entre nós super-humanos, gigantes e heróis, infelizmente ainda encontramos entre nós homens, corrompidos em seus espíritos, que tomam mulheres à força, e depois culpam a vítima por seus atos. No passado nefilim geravam medo e estranheza, hoje homens grandes podem ser heróis. No passado era aceito o discurso de Radak, que a beleza das mulheres corrompia os homens, hoje este discurso deve ser rechaçado com veemência.
A parashá acaba com um toque de esperança: Noah encontrou favor nos olhos de Deus. Sejamos, então, cada uma e cada um de nós, a esperança por um mundo melhor, em que nossas meninas e mulheres tenham a segurança de serem quem são sem culpa nem preocupação.
Shabat Shalom.
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