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Parashot Behar / BechukotaiVaicra 25:1-27:34

Behar e Bechukotai, que são lidas juntas este final de semana, finalizam o livro de Vaicrá, conhecido como Leviticus. Um livro difícil de ler, com regras que falam muito pouco com nossa vida nos dias de hoje. As parashiot desta semana trazem bênçãos e maldições, regras sobre escravidão, falam sobre votos e juramentos, e acabam com contribuições ao Templo.


“Assim como midrashistas e comentaristas debateram-se criativamente com mensagens e imagens difíceis, nós também devemos fazer.” É o que ensina a rabina Elizabeth Bolton.[i] Então, devemos encarar a questão da escravidão, e o papel que nossos antepassados tiveram neste processo. O texto que lemos nesta semana claramente diferencia o escravo israelita do escravo de outros povos. O israelita deve ser liberado no ano do jubileu. Já o escravo não israelita pode ser mantido por toda a vida.


Se a ideia de escravizar outra pessoa já nos parece inconcebível para os dias de hoje, diferenciar entre o israelita e os outros povos e inaceitável. É preciso entender que a escravidão, como colocada na Torá, era um artifício econômico utilizado naquele período, quando uma pessoa se colocava ao serviço do outro para pagar sua dívida, e povos conquistados eram escravizados. É também preciso lembrar que as passagens sobre escravidão da Torá e do Talmud foram utilizadas como argumento para que judeus participassem do mercado escravagista do período da expansão naval. E exatamente por isto devemos fazer uma nova leitura desta passagem, sob uma ótica diferente.


Assim faz Maimônides, conforme análise do Professor James Diamond[ii]: “Se a ‘beneficência’ de Deus se manifesta na igualdade inerente aos seres humanos ‘na sua criação’, então exercer domínio sobre outro ser humano subverte o governo de Deus e constitui um ato contra deum em vez de imitatio dei.‍” Assim, de acordo com este estudo, Maimônides entende que a escravidão vai de encontro com o objetivo principal que o humano deve ter em sua vida, que é buscar ser cada dia mais parecido com Deus, cada dia ser um humano melhor.


Esta ideia nos conecta ao início da parashá Bechukotai, onde somos mais uma vez apresentados ao sistema de recompensa e punição da Torá. Se cumprirmos as mitsvót, seguirmos os ensinamentos divinos, seremos abençoados; se nos afastarmos da Torá, seremos amaldiçoados. Podemos então, com o auxílio da interpretação de Maimônides concluir que escravizar o outro, seja israelita ou não, nos leva à maldição. Lembramos que fomos escravos, que todos os humanos são feitos à imagem divina, e que não devemos oprimir o outro, mas amá-lo.


“Deus dá à humanidade toda a possibilidade de entender que a ação humana é intrínseca, e essencial, para o funcionamento apropriado do cosmos. Repetidamente a Torá nos incentiva a agir, a fazer, e a ser porque fomos escravos do Faraó no Egito, porque conhecemos os sentimentos do estrangeiro.”[iii] Devemos entender então que o mal que causamos, a opressão que impomos ao outro, tem consequências no equilíbrio das boas e más energias que nos cercam. Que a maneira como tratamos o outro reflete diretamente na maneira como nós somos percebidos e tratados no mundo.


Construímos diariamente um futuro melhor quando entendemos que nossos atos têm consequências, e que o respeito ao outro é a base para a construção de um mundo onde a Presença Divina possa morar.


Shabat Shalom!





[i] The Women’s Torah Commentary [ii] https://www.thetorah.com/article/the-treatment-of-non-israelite-slaves-from-moses-to-moses [iii] Cantor Sarah Sager – The Torah, A Woman’s commentary.

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