Esta semana lemos em conjunto as parashiot Acharei Mot and Kedoshim, que falam sobre expiação de pecados e regras éticas para que as pessoas individualmente possam levar uma vida guiada por valores sagrados. Se cada membro do povo se portar como um pequeno pedaço de sacralidade, então o povo inteiro será sagrado, como pactuado com Deus.
Na primeira parashá, Acharei Mot, lemos: “E se alguém da casa de Israel ou dos estrangeiros que residem entre eles comer de algum sangue, porei o meu rosto contra aquele que comer do sangue; Eu cortarei essa pessoa dentre o seu povo. Pois a vida da carne está no sangue, e eu o designei para fazer expiação por suas vidas no altar; é o sangue, como vida, que efetua a expiação.”[i]
A relação do sangue com a vida, e seu papel de intermediário entre as ofertas dos israelitas e Deus me chamou atenção. Em especial porque esta é uma relação universalista, que inclui o estrangeiro que vive entre nós, e o sangue de tudo o que é vivo. Sangue que purifica ou impurifica. Quando ele é expectativa de vida, como na menstruação, ele é impuro; quando derramado pela morte espalha impureza; mas quando ele é oferecido em sacrifício de acordo com as regras estabelecidas na Torá, expia e purifica.
Outra relação interessante é trazida pelo rabino Dr. RabbiZev Farber: “Não acredito que Levítico simplesmente deseje tornar mais difícil para as pessoas comerem o sangue. Pelo contrário, parece-me que o enterro é um sinal de respeito pela vida. Mais de uma vez neste capítulo, Levítico afirma que o sangue é a força vital (נפש) e que é por isso que israelitas e não-israelitas são proibidos de consumi-lo (v. 12), por que ele pode expiar os pecados de Israel quando oferecido como um sacrifício (v. 11), e por que deve ser coberto (vv. 13-14). Assim como as pessoas são enterradas, o sangue é enterrado; deixar o sangue do lado de fora, exposto às intempéries e aos animais selvagens, mostra desrespeito.”
Respeito pela vida é um princípio moral que vai muito além do cobrir o sangue de um animal. Nasce desta ação, mas percorre todas as nossas ações e decisões. Respeitar a força vital da criação como um todo é a lição que recebemos em Acharei Mot, porque toda a criação é sagrada, em especial aqueles que trazem em si sangue, força vital, como animais silvestres, animais domesticados, e humanos de todas as origens.
Se entendermos que o respeito ao sangue, como representante da força vital do ser vivo é a lição moral que guia este conjunto de parashiot, então podemos ler as proibições sexuais descritas em Vaicrá 18 com outro enfoque, mais humano, e podemos entender que é através do respeito mútuo que construímos um mundo em que a relação do humano com Deus é possível, porque o humano respeita a força vital da criação Divina.
Mais do que focar no rigor branco e preto das normas criadas a partir destes versículos, devemos focar na intangível lição do respeito à vida.
Que possamos sentir a força vital da criação, que possamos focar nos batimentos e nas energias de toda a criação. Que possamos construir relações sagradas entre nós, humanos, dignas de serem base para uma relação verdadeira, profunda e sagrada com Deus.
Shabbat Shalom!
[i] Vaicra 17:10-11
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