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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Parashat Vaetchanan - Devarim 3:23 – 7:11

Na parashá desta semana, entre muitas lembranças das maravilhas demonstradas por Deus ao povo de Israel, e muitas advertências acerca dos perigos da idolatria, Moisés enfatiza aos israelitas a importância de guardar os mandamentos de Deus quando entrarem na Terra de Israel. Moisés repete os Dez Mandamentos e declama os trechos que se tornaram parte de nossa tfilá diária: Shema e Veahavta.


Durante o último ano e meio, ouvi a introdução do rabino Sergio Margulies para o Shemá: a nossa proclamação de fé. A frase, de certa forma, parecia fazer parte da tfilá dele, a lembrança da centralidade destas palavras para o judaísmo. Nas palavras do rabino Gunther Plaut, um lema de fé “repetido de manhã e de noite, bem como em momentos de crise grave e à porta da morte, sustentou cada geração de judeus e aprofundou seu compromisso com o Deus único salvador e protetor”.


Shemá e Veahavta, mais do que os outros parágrafos que compõem o complexo de tfilot do Shemá em nossas rezas diárias, compreende a essência do que é o judaísmo. A unicidade Divina como fator principal; a dedicação completa ao judaísmo, que mais do que uma religião ou um povo, é uma maneira de viver toda a vida; ensinar e aprender; a importância da ação.


“Adonai Echad” – יהוה אחד - Deus é um. “Tomado como um adjetivo, "um" significa que Deus é singular. O Shema, então, é uma declaração de monoteísmo. Há apenas um Deus em oposição a muitos deuses. Essa é a ideia na base do pensamento e da tradição judaica. Ajuda a nos lembrar que nosso Deus é o Deus de todas as pessoas e, portanto, toda a humanidade vem da mesma fonte.”[i] Aquele a quem nos referimos como nosso Deus deve ser pensado como o Deus de todas as nações e de toda a humanidade. Entender Deus como único não é somente entender que o judaísmo tem um único Deus, mas que Ele é o Deus de todas as religiões. Em um sentido oposto ao que prega o livro de Devarim, esta ideia deveria entender que outras religiões servem, de maneira diferente, a este único Deus, e que todos somos parte de um só sistema.


“Veahavtá”– ואהבת – “assim amarás” a consequência desta unicidade Divina é a busca pela melhor forma de vivenciar e se relacionar com o Deus único. “o amor reflete uma consequência e não um mandamento. O texto está dizendo que ao aderir ao programa descrito nos versículos seguintes, você passará a amar a Deus. A luta pelo amor pode despertar a capacidade de amar. O resto do verso serve como um tópico frasal para uma explicação tríplice correspondente nos versos seguintes, extraídas dos termos-chave coração (לֵבָב, levav), alma (נֶפֶשׁ, nefesh), e poder (מְאֹד, meod)— que explica a implementação do comando.”[ii]


Coração é a fonte do saber, da razão, no texto bíblico, hoje a fonte da emoção. Amar de todo o coração implica em aplicar razão e emoção na relação com Deus. Alma se refere à existência completa de uma pessoa, tanto o corpo – presente hoje, como as gerações futuras, se a alma é eterna, ela se resume naquilo que fazemos hoje com tanta intensidade, que permanece viva na memória dos que nos sobrevivem, criando nossa história. Meodecha é o superlativo; em hebraico, meod é muito. Traduzido como força pelo rabino Gunther Plaut, pode ser entendido como completude. Tudo aquilo que você tem, faz e é deve ser aplicado nesta relação única com o Divino.


Então, ao levantar e ao deitar; ao sair e ao voltar; nas suas ações (mãos) e em seus pensamentos (testa); dentro e fora de casa; hoje e no futuro que você planta hoje é preciso aplicar os valores ensinados pelo judaísmo, valores que devem ser transmitidos e mantidos vivos.


Esta é a essência do ser judeu: a completude. O entendimento de que não há diferenças entre estar dentro ou fora de casa, da sinagoga, do seu espaço. Ser judeu é ser em sua completude, em todas as suas ações, em todos os lugares e com relação a todas as pessoas, uma pessoa que se move de acordo com valores morais inabaláveis. Valores que se aplicam a nós mesmos, aos nossos filhos e filhas, àquelas e aqueles que nos ajudam, nos servem, aos nossos animais e ao mundo. Não há compartimentação do ser judeu.


Na semana de Tu beAv, o dia do amor no judaísmo, lemos na Torá que a base do judaísmo é o amor, o amor em ação, não somente em palavras. O amor único e abrangente, na completude do ser. Um amor tão grande que não é sentimento, não é mandamento, é consequência do ser judeu. Sejamos completamente amor.


Shabat Shalom.




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