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Parashá Tsav - Vaicrá 6:1-8:38

Quem são nossos líderes?


Esta semana, na parashá Tsav, lemos acerca da unção de Aharon e seus filhos. Moshé lava, veste e prepara Aharon, veste e prepara seus filhos, e passa à cerimônia, que tem uma duração de 7 dias. Moshé, o líder mais icônico da tradição judaica, tem a humildade de se colocar neste lugar de lavar e vestir o irmão, de preparar uma cerimônia na qual parte do seu lugar de poder – o sacerdócio – será transferido para seu irmão.


Quão gigante é este líder, que é capaz de recuar para dar lugar a outro? De dividir seu lugar, mesmo que seja com seu irmão?


Interessante que os teamim (a cantilação da Torá) nos trazem um indício forte de que este momento não aconteceu sem hesitação de Moshé. “A descrição da Torá do korban de Moshe do segundo carneiro - o carneiro que servirá para ordenar Aarão e seus filhos - é marcada por um Shalshelet, uma nota de cantilação incomumente longa e trêmula que aparece em apenas quatro lugares na Torá (Vaishchat). O Shalshelet é geralmente entendido como significando hesitação e ambivalência - aparece quando Lot hesita antes de fugir de Sodoma (Gênesis 19:16), e quando Eliezer faz uma pausa fora de Haran para pedir a ajuda de Deus na escolha de uma noiva para Itzhak (Gênesis 24: 12), e quando Iossef luta para recusar as propostas da esposa de Potifar (Gênesis 39: 8).”[i]


Apesar de hesitar, Moshé continua, e faz marcas com o sangue do carneiro nas orelhas, nos dedões das mãos e dos pés de Aharon e seus filhos. Um ato simbólico, que demonstra o comprometimento completo dos sacerdotes para com sua tarefa. A tarefa de serem sagrados e servirem ao povo e a Deus como intermediários.[ii]


“Líderes não se tornam grandes por seu poder, mas por seu poder de empoderar outros” disse o escritor americano John Maxwell. Moshé era um anti-herói, com defeito de fala, não exatamente uma pessoa sociável, sua liderança foi constantemente criticada e questionada, sua vida familiar praticamente invisível. O que fez deste homem um grande líder? Provavelmente sua capacidade de escuta e de observação, que permitiram que ele percebesse seu chamado Divino. Ou então sua entrega completa à tarefa que lhe foi dada, que se torna tão clara na parashá Itró. Mas sua humildade e disponibilidade, mesmo que com hesitação, em dividir suas tarefas de liderança, foi um aspecto determinante para que Moshé tenha sido o líder que foi. No entanto, com o passar do tempo, deixamos de focar nas características humanas de Moshé, dando um contorno quase místico, quase divino à sua liderança, e assim, deixamos de aprender a lição que ele nos trouxe.


Então, deixamos de escolher pessoas dedicadas e comprometidas, corretas e corajosas, humildes e generosas, para buscarmos heróis. Heróis concentram em suas mãos as tarefas que executam com poderes sobrenaturais. Não agem em grupo, não delegam, não planejam. Agem por impulso, força e emoção. Heróis não agem de acordo com a lei, se entendem superiores a elas. Quando passamos a apostar no impossível?


Hoje, vivemos o reflexo de nossas escolhas. No Brasil, em Israel, no mundo. Não é uma questão de direita ou esquerda, desta ou daquela ideologia. Buscamos soluções heroicas para nos liderar nas imensas travessias de mares e desertos que temos enfrentado: segurança, educação, economia, e agora a pior de todas – pandemia. Passamos a escolher pessoas com soluções heróicas, com discursos vazios, com promessas impossíveis. Precisamos voltar ao anti-herói.


Gabriel Pensador cantou:


Até quando você vai ser saco de pancada?

Muda que quando a gente muda O mundo muda com a gente A gente muda o mundo na mudança da mente E quando a mente muda a gente anda pra frente E quando a gente manda ninguém manda na gente

Na mudança de atitude Não há mal que não se mude nem doença sem cura Na mudança de postura a gente fica mais seguro Na mudança do presente a gente molda o futuro


Hoje à noite contaremos aos nossos filhos e aprenderemos deles também, acerca da história de um menino que nasceu porque as parteiras ousaram não obedecer e sua mãe o protegeu, cresceu porque sua irmã foi astuta, e a princesa bondosa. Um menino que virou um homem, e que virou líder. Um líder que mudou o destino de um povo, que se tornou uma nação. Um líder que com dedicação e humildade, dividindo suas tarefas, sem se apegar ao poder, sem se entregar às armadilhas do ego, se tornou um exemplo até os dias de hoje.


Busquemos nossos verdadeiros líderes.


Shabat Shalom!


[i] Ilana Kurshan – Torah Sparks CY [ii] The Jewish Study Bible p 212

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