A parashát Toldot – gerações – fala de como o casal Itzhak e Rivka se tornam uma família. Como o restante das famílias de Gênesis, uma família disfuncional. Toldot, especificamente, poderia ser lido como um manual do que não fazer ao criar e educar filhos.
וַיֶּאֱהַ֥ב יִצְחָ֛ק אֶת־עֵשָׂ֖ו כִּי־צַ֣יִד בְּפִ֑יו וְרִבְקָ֖ה אֹהֶ֥בֶת אֶֽת־יַעֲקֹֽב – “Itzhak amava Esav porque ele gostava de caça, mas Rivka amava Iaacov”. Quantas vezes já ouvimos um cônjuge falar ao outro: “seu filho está chorando” ou outra menção similar, dividindo a prole entre “o meu e o seu”. A referência tão comum é também encontrada na música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana: “Só que nessas férias, não vão viajar porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação”. Filhos buscam esta preferência que não é saudável para a relação familiar. Em tom de brincadeira, cada um dos meus filhos se diz ser o preferido. É verdade que construímos relações diferentes com cada um, porque eles são pessoas diferentes, mas não pode haver uma predileção.
Também em Toldot somos lembrados de que nossos filhos aprendem com nossos exemplos. Avraham por duas vezes disse que Sara era sua irmã, entregando-a para o Faraó e depois para Avimelech. Nas duas ocasiões Avraham mente, entrega sua esposa e acaba enriquecendo. Uma lição atravessada que Itzhak aprendeu bastante bem: ao chegar a Gerar, ele diz que Rivka é sua irmã. Itzhak aprendeu com seu pai, e repete seu erro. No entanto, nesta parashá, Avimelech descobre a mentira e Itzhak não enriquece em virtude dela.
Outra lição importante é realmente enxergar os filhos por quem eles são, e acreditar em nossos instintos. Itzhak é enganado por Iaacov, mas durante todo o processo, o pai desconfia da identidade do filho a ser abençoado. Há algo naquele filho que não corresponde aos trejeitos do filho predileto. Mas porque a característica que Itzhak preza em seu filho Esav é o gosto pela caça, que certamente falta ao pacato Iaacov, o pai se deixa seduzir, e é levado ao erro.
“O fato de que tudo que Esav recebeu foi a apreciação de seu pai por um certo tipo de comportamento, e foi negado o tipo de amor incondicional e ilimitado que sua mãe deu a Iaacov, fez dele quem ele era. O fato de Jacob ter sido amado incondicionalmente por sua mãe lhe dá forças para ser muitas coisas.” É o que sugere o rabino Shimon Felix em seu comentário sobre Toldot.
Nossos antepassados, com toda a sua humanidade, cometem erros que nos ensinam muito, talvez até mais do que seus acertos. Entre as maiores lições estão aquelas que dizem respeito às relações com nossos cônjuges e filhos. Relações saudáveis são construídas com respeito e valorização, com amor incondicional. Famílias saudáveis são aquelas em que todos são vistos, amados em todas as suas características, em suas individualidades, em que todos têm seu próprio direito de ter uma bênção.
Que possamos aprender com nossos antepassados e construir relações de respeito, amor, olhar e escuta. Que sejamos abençoados por cada uma de nossas qualidades, por todas as nossas características, por quem realmente somos, e que saibamos estender estas bênçãos incondicionais aos nossos filhos.
Shabat Shalom.
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