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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Parashat Toldot - Bereshit 25:19 - 28: 9

Na parashá desta semana, repete-se o padrão de infertilidade de nossas matriarcas. No entanto, a diferença é que em Toldot é Itzhak que pede por um filho. Rivka e Itzhak têm gêmeos: Esav e Iaacov. Depois de retornar de uma viagem de caça, Esav pede a seu irmão um pouco de sopa de lentilha, contra o que Iaacovpede seu direito de primogenitura. Anos mais tarde, quando Itzhak estava velho e com a visão turva, Iaacov enganou seu pai, com a ajuda de Rivka, para que lhe desse a bênção do primogênito. Iaacov sai de casa, temendo que seu irmão se vingue, e vai em busca de uma esposa na casa de seu tio Laban.


Toldot é uma lição de paternidade e maternidade. Na verdade, parece uma boa cartilha do que não fazer se você está procurando criar irmãos sem rivalidade. No texto, lemos que: “Quando os meninos cresceram, Esaú tornou-se um hábil caçador, um homem dos campos; mas Jacó era um homem simples e ficava nas tendas. Isaac gostava de Esaú porque ele punha caça em sua boca, mas Rebecca gostava de Jacó.”[i] É verdade que o instinto humano nos leva a um melhor relacionamento com aqueles que são mais parecidos conosco, mas isto não significa, em especial quando se trata de nossos filhos, que não devamos fazer um esforço maior em compreender e nos aproximar deles, por mais diferentes e desafiadores que eles possam ser.


No momento em que Itzhak está velho e com a visão turva, sentindo que sua vida está chegando ao fim, e, portanto, deve abençoar aquele que será seu herdeiro nas terras, seu sucessor em seu legado, é que a inabilidade de Rivka e Itzhak como pais chega ao seu ápice. Mas a narrativa ressoa além dos contornos específicos de seus personagens. Quando Itzhak abençoa Iaakov, disfarçado de Esav, percebemos a lacuna entre ser visto por quem somos e encontrar a bênção. Esta passagem nos faz questionar sobre o tipo de bênção que vem ao nos escondermos, versus sermos totalmente reconhecidos.


O texto descreve a cena em que Iaacov leva o cozido ao seu pai, e Itzhak não o reconhece, estranha e desconfia durante todo o tempo. Questiona e pergunta “Você é mesmo meu filho Esaú, ou não é?”[ii] Itzhak questiona a rapidez da volta da caça, para o que Iaacov responde que Deus fez um animal aparecer diante dele. Aqui há um claro paralelo com a Akedá, o momento em que Itzhak foi poupado de ser sacrificado, e Deus fez um cordeiro aparecer diante de Avraham para ser oferecido em seu lugar. Em um midrash (história rabínica) nossos sábios exploram este paralelo, contando que "Quando Avraham amarrou seu filho no altar, os anjos choraram ... e as lágrimas caíram de seus olhos nos olhos de Itzhak e foram impressas em seus olhos até que ele envelheceu e seus olhos escureceram”[iii] embora o corpo de Itzhak seja levantado do altar, uma parte dele nunca se recupera do trauma, e a Akedá torna-se, de acordo com esta leitura, a cegueira de Itzhak.


Como seres humanos, nossa visão é inerentemente limitada; há coisas que nunca podemos ver ou saber totalmente. Mas, aparentemente, ao falar que Deus proveu o animal para o cozido, Iaacov estava tentando falar algo para seu pai. Talvez algo como escreveu a rabina Aviva Richman: “Pai, quando parecia que você não tinha nenhum caminho para a bênção, Deus fez aparecer um animal que alterou o curso de sua vida. Eu também quero que este momento seja um ponto de virada. Quero que você “erga os olhos e me veja” de uma forma que nunca viu. Quero ser incluído neste legado de bênçãos.” E, realmente, Iaacov é abençoado, apesar de não ser visto pelo pai. Quantas vezes nossos filhos pedem nossa atenção, e nós simplesmente não os vemos...


Então, Esav chega e se dá conta de que sua bênção foi dada a seu irmão, e ele não tem mais nada. Em um diálogo extremamente dolorido entre pai e filho, Esav chora e pergunta: “Você tem apenas uma bênção, pai? Abençoe-me a mim também pai!”[iv]. Apesar da hesitação inicial, Itzhak concede uma bênção alternativa a Esaú. Embora as duas bênçãos não sejam idênticas, Itzhak opta por abandonar a tradição de conceder uma única bênção, dedicada somente a seu filho mais velho e, em vez disso, abençoa seus dois filhos. No futuro, no momento de sua morte, Iaacov manterá esta nova tradição e abençoará a cada um de seus filhos com uma bênção específica.


Toldot nos chama a olhar com verdade para nossos filhos, enxergá-los verdadeiramente em todas as suas qualidades e defeitos, e amá-los igualmente. Somos chamados a olhar cada uma de nossas pessoas com todas as suas particularidades e reconhecer a benção que cada um pode receber.


Que possamos amar, enxergando e reconhecendo a riqueza das diferenças, e assim conceder bênçãos, sem limites.


Shabat Shalom.

[i] Bereshit 25:27-28 [ii] Bereshit 27:21 [iii] Bereshit Raba 65:10 [iv] Bereshit 27:38

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