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Parashat Tetsavê - Shemot 27:20 – 30:10

Nesta parashá, continuamos a receber instruções de construção para o Mishkán. Começamos com a luz eterna, o Ner Tamid, então Deus nomeia Arão e seus filhos como sacerdotes. Deus descreve as roupas sacerdotais e explica como santificar adequadamente os sacerdotes. Arão é ordenado a fazer oferendas de incenso a Deus todas as manhãs em um altar. Deus explica que uma vez por ano Arão fará uma oferta naquele altar para expiar todos os pecados dos israelitas.


Parashat Tetzaveh dedica grande atenção à preparação das roupas de Aaron, nos detalhes mais precisos de cor, decoração e acessórios. Também fornece instruções interessantes sobre quem deve prepará-los e em que estado de espírito. Suas vestes são projetadas para lembrá-lo literalmente de sua tarefa como representante e emissário da comunidade. Ele se coloca diante do Senhor, mas não vai em seu próprio nome. Seu cargo é hereditário, mas ele não pode deixar sua humildade e sua responsabilidade para trás. Os nomes de todo o seu povo foram tecidos em suas vestes – costurados nas ombreiras e escritos no peitoral. Seus passos são marcados por sinos, sua cabeça traz um lembrete da importância de sua tarefa.


“É interessante notar que enquanto o sacerdócio é hierárquico (e patrilinear), a tarefa de vestir os sacerdotes é deixada para “chochmei halev” – aqueles que são “sábios de coração a quem eu enchi com o espírito de sabedoria”” ressalta a ativista social Aliza Mazor. “A “sabedoria do coração” é o lugar onde duas de nossas maiores capacidades humanas se unem; a capacidade de pensar e resolver problemas se funde com o desejo de nutrir, curar, abraçar e amar.” Assim, o exercício do sacerdócio, exige que o sacerdote tenha um equilíbrio entre razão e emoção, para exercer a difícil tarefa de ser intermediário entre Deus e o povo. Para atender às mais diversas necessidades daqueles que o procuram.


Sobre o coração, Aharon traz o “peitoral da decisão” (também traduzido como “o peitoral do julgamento”), fornecendo um lembrete de que, como sacerdote e líder, ele será chamado não apenas para servir e adorar, mas também, nos momentos mais críticos, para decidir e julgar. Toda decisão ligada ao exercício do sacerdócio deve ser justa, deve ter racionalidade e emoção balanceadas de maneira a acessar todas as entrelinhas racionais e legais do problema apresentado, mas também levar em consideração que aquela decisão está sendo tomada acerca da vida de uma pessoa.


Os passos do sacerdote são marcados pelos sinos que estão costurados na bainha de suas vestes. Um lembrete eterno de que cada passo deve ser dado com precaução e intenção, quando no exercício do sacerdócio. Que os passos do sacerdote deixam mais do que simples pegadas. Suas ações se transformam em sons que se dissipam pelo ar, cujo reflexo no ouvido de cada pessoa ressoa de maneira diferente, muito além do seu controle. Então, a consciência deve estar sempre profundamente ativada em cada palavra, em cada gesto, em cada passo.


Subimos à cabeça do sacerdote, onde uma testeira de ouro traz os dizeres “Kadosh laAdonai” que significa Santificado para Deus. Rashi (sábio francês do século XI), esclarece que que ao usá-lo, o Sumo Sacerdote deveria estar focado nele e na santidade exigida de seu trabalho. A comentarista moderna Aviva Zornberg ensina que ser um kohen é tanto desempenhar um papel de serviço sagrado e submeter-se a uma força superior, quanto ser um aristocrata, consciente do poder em si mesmo.


Este poder que é herdado de pai para filho, que coloca um humano entre o povo Deus pode corromper. Todas estas vestes, que pesam, fazem sons e brilham, e trazem em si um significado profundo. Elas têm a função maior de ancorar os pés do Cohen no chão, atinar seus ouvidos e garantir que, ao exercer suas funções, ele se mantivesse humilde e conectado com sua função sagrada, sem se sentir pessoalmente sagrado.


De acordo com Maimônides (comentarista bíblico do século XII), líderes que lançam medo sobre a congregação não por causa de Deus, que governam o público com mão forte, enquanto seu próprio objetivo é o auto engrandecimento, e seus desejos não são glorificar o céu, “não têm parte no Mundo Vindouro, mas sofrem excisão e perda de identidade, e são condenados para todo o sempre por sua extrema maldade e pecaminosidade”[i]


Oferecendo uma interpretação diferente de “Kadosh laAdonai”, o Zohar (texto cabalístico, século 13) descreve o objeto da frase como a pessoa que veio para oferecer um sacrifício. De acordo com o Zohar, a frase seria refletida da testeira do Sumo Sacerdote no rosto da pessoa diante dele.” nesta mesma ideia, a pessoa se via refletida na testeira do sacerdote, sendo ela mesma santificada a Adonai quando em busca de conforto espiritual.


Trazendo para os dias de hoje, não posso deixar de comparar as mensagens trazidas pela parashá do que seriam características importantes para o exercício do sacerdócio, com o exercício da atividade rabínica. Temos a responsabilidade de ouvir com a razão, mas acolher com emoção. A sabedoria do coração faz parte, ainda hoje, da investidura do líder espiritual. Somos chamados diversas vezes a tomar decisões que tem possibilidades infinitas que devem ser acessadas, mas sem nunca deixar de levar em consideração as emoções do humano sobre quem aquela decisão recairá. Como o Cohen do passado, o rabino de hoje deve ter em mente a santidade de sua função, não sua vontade e sede de poder. Deve ter em mente a sua comunidade, não o seu próprio ego.


“Hoje, não há Templo, nem Sumo Sacerdote, não há necessidade da placa de ouro para lutar pela santidade. Em vez disso, vamos imaginar que as palavras “Kadosh laAdonai” resplandecem de cada uma de nossas testas. Essas palavras são muito mais valiosas do que ouro puro ou pedras preciosas, pois refletem a luz de Deus, desafiando-nos a um comportamento de maneira que honre a santidade em nós mesmos e nos outros.”[ii]


Que possamos, em nossos lugares de liderança modernos, sentir o peso das vestes sacerdotais de ontem em nossos passos, em nossos peitos e em nossas cabeças, refletindo a santidade de nossas funções pelo bem comum, com humildade e justiça.


Shabat Shalom.


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