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Parashat Shemot - Shemot 1:1 – 6:1

Parashat Shemot, a primeira do novo livro, que conta a história da escravidão e saída dos israelitas do Egito, chama atenção do leitor, logo no início para seus nomes. E justamente esta parashá traz muitos nomes de mulheres, além de mulheres sem nome (ainda), que são determinantes para a existência da história do Êxodo. Não é exagerado relembrar que, se Moshé é reconhecido como o líder e herói desta história, não haveria história se não fossem Iocheved, Miriam, Shifra, Pua e Tsipora.


Desta vez foi Tsipora quem me chamou atenção. Como tantas outras mulheres no texto bíblico ela aparece na história como uma menção quase desconectada do texto: “Moisés consentiu em ficar com o homem, e ele deu a Moisés sua filha Tsipora como esposa.”[i]. Um estranho ajudou as filhas deste homem a hidratar seu rebanho, e em recompensa ele dá casa e uma das filhas como esposa. Para nossos tempos atuais, é quase incompreensível.


Mas Tsipora se mostra mais do que uma recompensa, ela tem iniciativa e força. Não porque, como lemos pouco a seguir, ela tem dois filhos com Moshé (filhas não são mencionadas, já que não terão um papel nesta história, apesar de que os filhos também não terão. São mencionados e desaparecem). A força de Tsipora está em reconhecer a Divindade e não titubear diante do desafio.


“וַיְהִ֥י בַדֶּ֖רֶךְ בַּמָּל֑וֹן וַיִּפְגְּשֵׁ֣הוּ יְהֹוָ֔ה וַיְבַקֵּ֖שׁ הֲמִיתֽוֹ׃” – “Em um acampamento noturno no caminho, Adonai o encontrou e tentou matá-lo.” Quem Adonai encontrou e tentou matar não é claro na narrativa bíblica, mas sem pestanejar, Tsipora pega seu filho e extrai seu prepúcio, declarando que o ato é um indicador de sua aliança com Deus. O ataque acaba, e ela confirma a aliança com Deus. É interessante que, neste momento, não ouvimos falar de Moshé. Não sabemos se ele vê, se ele está sendo atacado, se ele reage. Só sabemos que Tsipora se levanta e age de maneira a proteger sua família.


“A declaração enigmática de Tsipora tem duas explicações possíveis: ela joga o prepúcio aos pés de Moisés, dizendo: “Você é um noivo de sangue para mim”, ou ela o joga aos pés de Deus, dizendo: “Você é um sogro de sangue para mim.” (Damim significa “sangue” e hatan pode significar “noivo” ou “sogro”.) De qualquer maneira, seus atos e palavras interrompem o ataque. A história já é difícil para o narrador, que acrescenta um comentário de que hatan damim se refere à circuncisão. A situação permanece obscura para nós. Tsipora, porém, entendeu e agiu decisivamente para resgatar Moisés.”, é o que sugere a acadêmica Tikva Frymer-Kensky.


Tsipora acredita em Moshé em todas as suas descobertas, parte de sua casa com seus filhos acompanhando a desafiadora jornada de seu marido. Tsipora defende a vida dos filhos e do marido. Ela mostra dedicação e atitude, mas Moshé, em um dado momento, decide que ela deve ser enviada à casa de seu pai, e ela deixa de ser parte da jornada do marido.


Shemot é a narrativa das tribos de Israel, que vão ao Egito buscar sobrevivência, lá são escravizados, e depois salvos. Mas também aprendemos com Shemot que os nomes que lembramos e as histórias que contamos nem sempre são daquelas que tornaram a narrativa possível. Shemot nos clama a recontar as histórias de nossas heroínas e torna-las exemplos para nossas meninas.


Que possamos sempre reconhecer, lembrar e contar as histórias das nossas mulheres.


Shabat Shalom!


[i] Shemot 2:21

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