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Parashat Reê - Devarim 11:26-16:17

“Veja, neste dia eu coloco diante de você bênção e maldição.” Esta é a primeira frase da parashá Reê, que traz diversos assuntos que poderíamos relacionar com o ser Kadosh – separado – como objetivo do povo de Israel, escolhido e acordado para ser o parceiro divino neste mundo. Bênção e maldição parecem ser antagonistas claras, e deveriam ser conceitos fáceis de diferenciar no texto bíblico. Muitas vezes assim é.


No entanto, a vida real não é dividida em preto e branco, certo ou errado, bênção e maldição. A vida traz nuances que tornam as escolhas complexas, trazem diversos tons de cinza e tantas outras cores adicionais. Traz maldições que se tornam bênçãos e bênçãos que parecem maldições; errados que se tornam certo e certos que parecem errados. Estas nuances também aparecem no texto bíblico, em passagens que muitas vezes decidimos ignorar e não comentar.


Lemos esta semana que o povo entrará em uma terra habitada por outros povos, que conquistará o território através de guerras, e a ordem após conquistar a terra é: “Derrube seus altares, destrua seus pilares, coloque seus postes sagrados no fogo e corte as imagens de seus deuses, apagando seu nome daquele local.” Pilhagem e destruição de povos e culturas locais, algo inconcebível por nós, judeus reformistas, liberais, modernos e inseridos nas comunidades locais.


Pessoalmente, não somente não me faz sentido este comando, mas também causa revolta. Isto porque eu sou um reflexo de energias e culturas misturadas. Minha mãe é judia, e por isto eu fui criada desde pequena como judia, mas meu pai é cristão espírita e minha avó paterna era índia brasileira, filha de pajé. Minha herança cultural tem todas estas nuances, das quais me orgulho muito.


Como cidadãos do mundo, atualmente nos causa estranheza ver templos destruídos por outras culturas, como alguns dos que visitei em viagem à Índia. Nos causa revolta ver a destruição de imagens de santos em igrejas, que são cada vez mais frequentes, em especial no Brasil. Mas quando lemos esta passagem na Torá decidimos não comentar.


No entanto, esta semana, o governo extremista e preconceituoso que está no poder em Israel decidiu desviar verbas que eram destinadas a cidades árabes para combate à violência e melhora de estruturas, como saúde e educação, e alocar o dinheiro em assentamentos israelenses nos territórios ocupados. Baseados na mesma premissa de que destruir os povos locais seria um mandamento divino, alguns grupos extremistas continuam destruindo os povos que habitam a Terra Prometida conosco.


Lemos em Reê que Deus coloca bênção e maldição diante do povo e indica: “escolham a vida”. O texto bíblico desta semana nos chama a escolher, tomar posição, falar. Escolho não ignorar os trechos do texto bíblico que me incomodam; escolho ler esta passagem como mais uma maldição – esta disfarçada de mandamento; escolho pela bênção de viver em um mundo plural e diverso; escolho pela vida dos meus irmãos israelenses, dos povos que habitam Israel com eles, e de todos nós, judeus espalhados pelo mundo.


Deus coloca diante de nós bênçãos e maldições. Cabe a nós estudar, compreender e decidir quais são as nossas bênçãos e como vamos trabalhar para merecer cada uma delas.


Shabat Shalom.



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