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Parashat Reê - Devarim 11:26-16:17

Atualizado: 8 de ago. de 2021

Esta é a parashá mais longa de Devarim, a primeira do conjunto legal de Devarim. Estas leis têm por objetivo regular as atividades do povo na Terra Prometida, e regulam aspectos da vida cotidiana: consumo de carne, o afastamento dos locais de prática religiosa dos não israelitas que vivem nesta terra, profecias, dízimo, remissão de dívidas, cuidado com os necessitados, dívida e escravidão, dedicação dos primogênitos dos animais, e festivais de peregrinação.


Sempre me chamou atenção o fato de que a Torá, em suas leis de kashrut, somente fala acerca do consumo de carne. Reê traz uma lista de animais cuja carne não podemos consumir, em contraste com uma lista daqueles que podemos consumir. Apesar de vários estudos científicos terem tentado explicar esta lista a partir de uma premissa de que haveria uma preocupação com a saúde do povo, o texto bíblico justifica a limitação imposta pela kashrut como uma maneira de se manter kadosh – consagrado, separado. A kashrut seria, então, simplesmente mais uma prova de obediência.


No entanto, “o que você escolhe comer e como você escolhe comer diz muito sobre quem você é e que tipo de vida você busca atingir” é o que propõe a rabina Ruth Sohn[i]. Somos lembrados no texto da parashá que “sangue é vida”[ii], como que um chamado a respeitar a carne que vamos consumir. Talvez a kashrut, mais do que uma simples lista de quais carnes podemos ou não consumir, seja um lembrete para respeitarmos a vida que foi encerrada para saciar nossa fome. Especialmente, para mim, as leis de kashrut são um chamado a pensarmos acerca do que consumimos, e termos consciência de que há um limite para o que podemos.


Se conseguirmos encarar as regras de kashrut como a possibilidade de colocar intenção religiosa em nossa alimentação, podemos então tomar decisões modernas sobre o que comemos, a partir do pensamento judaico.


“Assim como estabelecemos modelos de observância do Shabat para nosso povo, também podemos criar modelos de prática alimentar. A kashrut deve ser uma abordagem holística da alimentação e da produção de alimentos. Do ponto de vista do Movimento Reformista, o ritual não pode ser órfão da ética.”[iii].


A kashrut então pode ser entendida como mais uma maneira de se relacionar com Deus, de trazer esta relação para outro lugar, além da sinagoga. Ao decidirmos adotar uma filosofia kasher para a alimentação, estamos decidindo relacionar a alimentação diária com algo de sagrado. Nos obrigamos a nos questionarmos acerca do que estamos ingerindo e por quê. A decisão então pode ser pelo vegetarianismo, pode ser por uma alimentação orgânica, por adquirir produtos de pequenos produtores, ou simplesmente de não consumir este ou aquele alimento.


No texto da haftará desta semana, a terceira das sete haftarot de conforto que nos levam a Rosh Hashaná, lemos: “Ó, todos os que têm sede vão à água e os que não têm dinheiro: vão, comprem grãos e comam. E vão e comprem grãos sem dinheiro, vinho e leite sem custo”[iv]. A profecia é uma promessa de uma nova aliança e a restauração da linhagem de Davi. Estamos falando com um povo empobrecido, que carece de sustento físico, eles estão com sede e fome. No entanto, muitos comentaristas também sugerem que eles carecem de substância espiritual, carecem da Torá, como diz o Pirkei Avot: “onde não há trigo não há Torá, onde não há Torá, não há trigo”[v]. Podemos então concluir que o verdadeiro sustento vem do conhecimento, do pensamento; que a melhor alimentação é aquela que é feita com intenção, com decisões morais e éticas que a sustente.


Essas escolhas e decisões não são feitas da noite para o dia. Como grande parte da observância religiosa em nossas vidas, a observância da kashrut desta forma, é um processo contínuo.


Se nosso corpo é nosso templo, que somente coloquemos nele alimentos que contenham a nossa intenção sagrada de alimentá-lo da maneira mais judaica possível. Afinal, somos o que comemos.


Shabat Shalom.


[i] The Torah, A Woman’s Commentary – WRJ – UJR Press [ii] Devarim 12:23 [iii] Zamore, Mary L.. The Sacred Table: Creating a Jewish Food Ethic (p. xxvii). CCAR Press. Kindle Edition. [iv] Isaías 55: 1 [v] Pirkei Avot 3:17

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