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Parashat Lech Lechá - Bereshit 12:1-27

Lech lechá, vá da casa de seu pai para a terra que Eu te indicarei. Assim começa a jornada de Avraham a si mesmo. Ao metaforicamente sair da casa de seu pai, que em realidade já havia morrido, ele se transforma em protagonista de sua história, passa a ser o patriarca de sua própria família. Acompanhamos, ao longo desta parashá, a evolução de Avraham, seu caminho, seu crescimento, até chegar ao momento do brit, do pacto com Adonai, marcado através da circuncisão. No entanto, este caminho e este crescimento acontecem causando dor, angústia e opressão a duas mulheres que têm papéis essenciais na vida de Avraham.


Avraham vai a Canaã com seu clã, mas pouco tempo depois precisa fugir da seca rigorosa, e vai ao Egito. Chegando ao Egito, nosso patriarca pede que sua esposa diga que é sua irmã, temendo por sua própria vida. Então Sara é entregue ao Faraó, e Avraham recebe riquezas em troca. O texto é bastante claro: nosso patriarca Avraham vende sua esposa ao Faraó em troca de gado, rebanho, camelos, escravas e escravos.


Maimônides entende que Avraham cometeu um grande pecado ao não acreditar na proteção divina e submeter sua esposa aos desígnios do Faraó, expondo Sara à vitimização sexual. Para Maimônides a escravidão no Egito é a consequência por este ato.

Ao ser expulso do Egito pelo Faraó, Avraham leva sua esposa e todos os bens que adquiriu naquela terra, e então uma descendência é prometida a Avraham. Sara, que já devia estar fragilizada e machucada, passa a viver com a pressão de engravidar, quando pensava ser estéril. Desesperada, entrega sua escrava, Hagar, fruto daquele tempo do Egito, para servir de concubina de seu esposo, e assim garantir uma descendência a Avraham. Mais uma vez, Sara entrega seu orgulho, sua honra, para satisfazer seu marido. Mas, desta vez, foi demais para ela, que se arrepende, e passa a oprimir Hagar.


Hagar foge, e o incompreensível acontece: um anjo pede que ela volte à casa de Avraham, se submeta ao tratamento agressivo de Sara. Em recompensa, Deus promete a Hagar uma descendência numerosa. Então Hagar volta, e termina sua gravidez na casa de Avraham. Um novo pacto é firmado com Avraham neste momento, com a mudança dos nomes dele e de Sara, e a promessa de uma descendência através de Sara, para o que Avraham ri e duvida: eu nesta idade, e Sara com 90 anos vai engravidar?! O símbolo deste novo pacto é a circuncisão.


Uma parashá cheia de histórias. Histórias de opressão de mulheres por um homem, que entrega sua esposa, não protege sua concubina, dispõe de suas mulheres sem arrependimento. Histórias de mulheres que, ao serem diminuídas à sua possibilidade de gerar descendência, oprimem uma à outra, ao invés de entenderem que suas histórias são similares, e sua fragilidade poderia ser menor se estivessem unidas. A história é sobre a jornada de um homem, de seu pacto com Deus, um pacto que não somente é inacessível às mulheres, mas também surgiu às custas da objetificação e dores das mulheres de Avraham.

Semana passada o pacto era com a humanidade, com a vida, através da beleza do arco-íris. Esta semana, o pacto é de opressão, exclusão e dor. O rabino Gunter Plaut ressalta, em seu comentário a esta parashá, que na vida moderna, as mulheres foram incluídas no pacto, através de cerimônias de Simchat Bat ou Brit Bat, que foram criadas mais recentemente.


Hoje, somos capazes de incluir, de enxergar na outra uma aliada, e não uma inimiga. Entendemos que a força está em agirmos juntas, criarmos o nosso pacto, conquistarmos nossos espaços. Que possamos seguir juntas, ninguém solta a mão de ninguém. Somos mais fortes quando não estamos sozinhas.

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