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Parashat Haazinu - Devarim 32:1-52

Nesta semana lemos Haazinu, o poema que Moshé escreve como sua última mensagem ao povo, como testemunho ou aviso para que carreguem com eles em seu futuro na nova terra em que habitarão. Em sua última mensagem, Moshé fala de Deus, de Torá, e do futuro.


“Pelo relato da Torá, Haazinu é uma canção destinada a testemunhar contra nossos erros. Mas os rabinos reinterpretam esta canção como um modelo para a natureza poderosa e dinâmica da Torá como um todo, Torá que pode ser dura como uma tempestade ou suave como o orvalho. Mais importante, aprendemos que não há nada automático sobre a bondade da Torá. O impacto da Torá depende do trabalho que estamos dispostos a fazer à medida que a aprendemos, compartilhamos e interpretamos”, é o que sugere a Rabina Aviva Richman em seu comentário para esta parashá.


A Torá, que não está nos céus, mas aqui perto, para ser vivida, estudada, comentada e ressignificada, conforme lemos na parashá Nitsavim, é uma arma poderosa. Com base na Torá e sua interpretação as pessoas podem construir o bem ou o mal. A interpretação literal do texto bíblico leva muitos a atos de extremismo, e a afirmações preconceituosas e excludentes do outro. Estudar e viver a Torá, para que ela seja na medida certa, como menciona Haazinu, “Como chuvas no crescimento jovem, como gotas na grama”[i], depende de um entendimento profundo dos valores morais e nuances históricas nos quais ela vem inserida. Não existe uma leitura simples ou única da Torá.


Em verdade, o próprio poema Haazinu traz em si as bases para o estudo e entendimento do texto bíblico: a multiplicidade, trazida pelo versículo “Quando o Altíssimo deu às nações suas casas e definiu as divisões da humanidade, [Deus] fixou os limites dos povos em relação aos números de Israel.”[ii]


De acordo com o rabino Zohar Atkins, “Israel é um microcosmo do mundo; assim como existem 12 tribos, existem 12 pilares. Assim como há diversidade dentro de Israel, também há diversidade no mundo. O que mantém o mundo robusto é a própria diversidade, a variedade de experiências, perspectivas, valores, formas de ver. Se quiséssemos ser anacrônicos, poderíamos dizer algo como democracia — a noção de que cada pessoa (e cada grupo) tem uma ontologia indissolúvel, uma personalidade incomensurável que precisa ser considerada. O mundo não se apoia, em suma, na excelência moral dos santos ou na proeza científica dos inventores e tecnólogos ou na inspiração criativa das artes, mas na cacofonia de todos os povos, a confusão e discórdia daqueles cujo discurso e opinião são diferentes.”


Considerar diferentes visões e opiniões na hora de formar a sua própria opinião sobre o texto bíblico ou ainda sobre qualquer assunto da vida que supera os limites do texto bíblico. Respeitar diferenças e tomá-las em conta no momento de estabelecer as suas relações com o outro. Ouvir, estudar, ensinar, cuidar do outro, considerar o fragilizado estes são os valores fundantes do estudo da Torá e da vida guiada através dos ensinamentos da Torá. O texto é sagrado quando construímos um mundo melhor, baseado nele.


“Levem ao coração todas as palavras com as quais eu os adverti neste dia. Ordenem-nas aos seus filhos, para que eles possam cumprir fielmente todos os termos deste Ensinamento. Porque isso não é uma coisa trivial para vocês: é a sua própria vida.”[iii]


Que possamos viver através dos ensinamentos da Torá para a construção de uma vida melhor para todos, levando em consideração a pluralidade do mundo em que vivemos, e que possamos ensinar nossos filhos a seguirem por este caminho.


Shabat Shalom.



[i] Devarim 32:2 [ii] Devarim 32:8 [iii] Devarim 32:46-47

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