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Parashat Emor - Vaicrá 21:1 - 24:23

Em palavras rápidas, a Parashat Emor dá continuidade ao Código de Santidade. Deus descreve restrições relacionadas ao casamento dos sacerdotes, regras relacionadas às filhas dos cohanim, e limitações físicas para exercer o sacerdócio. Deus então descreve uma variedade de feriados, incluindo Pessach, Shabat, Iom Kipur, Sucot, e o período do Omer. Ao final da parashá, conta-se a história de um homem filho de mãe judia e pai egípcio que blasfema o nome de Deus e é apedrejado.


Apesar da minha tendência pessoal costumeiramente me levar a escrever sobre as regras de casamento para os cohanim, e as regras relativas às suas filhas, esta semana fui levada a estudar a questão das deficiências e o exercício do sacerdócio. O que me levou a este estudo foi uma conversa que tive com uma pessoa que me contou como a parashá e o estudo dela causam dor para ela. Foi triste perceber como há poucos comentários sob esta ótica acerca de Emor.


“Absolutamente ninguém que tiver um defeito será indicado: Nenhum homem que for cego, ou manco, ou que tiver um membro muito curto ou muito longo; nenhum homem que tiver uma perna quebrada ou um braço quebrado; ou for corcunda, ou anão, ou tiver uma protuberância em seu olho, ou que tiver cicatriz, ou escorbuto, ou testículos esmagados”[i] estas são as limitações físicas para que um homem seja indicado como sacerdote para oficiar sacrifícios.


É importante ressaltar que estas pessoas não eram excluídas de sua tribo, continuavam sendo cohanim, continuavam compartilhando da comida sagrada exclusiva dos sacerdotes, e ainda podiam dar bênçãos. Mas os serviços de sacrifício não eram autorizados a fazer.


O escritor estadunidense e ativista dos direitos dos deficientes, Nick Dupree z’l, escreveu sobre a parashát Emor: “Eu acho que não há nada que não possamos aprender, especialmente palavras da Torá ... Bem, para mim, capacitismo significa impedir as pessoas com deficiência de fazer coisas que podemos fazer, assumindo que não temos nada a contribuir e sufocando nosso potencial. Isso não significa que eu tenha a mesma chance de jogar pelos Yankees. Talvez um cohen deficiente não consiga arrastar um touro pela rampa até o altar de sacrifício. E temos que lembrar que a Torá foi registrada durante um tempo em que Deus feria as pessoas como um exemplo de que mesmo infrações menores não deveriam ser cometidas no serviço do Templo... E nesta vida de confusão, caos e escuridão, quem encontra seu propósito, seu significado, é realmente afortunado. Não estou ofendido com os requisitos rigorosos para os serviços do Templo."


Realmente, algumas das deficiências descritas no texto bíblico são incapacitantes da função braçal à qual o cohen era obrigado a executar. No entanto, não devemos deixar de tomar em conta outras que não são incapacitantes, e mesmo assim são elencadas, como a existência de cicatrizes.


A rabina conservadora estadunidense Lauren Tuchman tem uma visão rigorosamente diferente desta parashá[ii]. Ela entende que a parashá é dolorida para aqueles que têm qualquer tipo de deficiência, em especial para ela, que é cega. Ela entende que o capacitismo ainda hoje exclui as pessoas de uma vida de participação judaica plena, e que os textos bíblicos muitas vezes são utilizados para justificar a exclusão do outro de maneira errônea.


Ela diz: “Vivemos em um mundo em que aqueles de nós que se encontram à margem social não são vistos como igualmente confiáveis, igualmente competentes. O contrário disso é que muitos líderes religiosos sentem que devem esconder um aspecto essencial de si mesmos por medo de perder a posição pela qual trabalharam tanto ou porque temem o estigma. E embora muitas vezes seja não intencional e subconsciente, ainda colocamos imensas barreiras no caminho de tantos que têm uma Torá tão enriquecedora para ensinar devido à nossa incapacidade coletiva de superar nossos próprios preconceitos arraigados.


E esses obstáculos não afetam apenas aqueles em posições explícitas de liderança, mas também a capacidade daqueles que estão à margem de encontrar um lar no centro de nossa comunidade. Com que frequência deixamos de falar sobre assuntos difíceis porque sentimos que não se aplica a nós ou porque “pessoas assim” não estão aqui? Quando privilegiamos a suposta perfeição física, um termo profundamente problemático, que ativistas dos direitos das pessoas com deficiência e outros têm problematizado e desconstruído, enviamos uma mensagem dolorosa sobre o valor daqueles que não conseguem atingir esse padrão impossível, que é tanto espiritual quanto psicologicamente prejudicial.”


Demorou muito para a sociedade se sensibilizar com as pessoas com deficiências físicas ou outros “defeitos” e ainda não é fácil para aqueles com esses desafios. Enquanto comunidade, nos orgulhamos dos projetos de inclusão que mantemos. Mas será que é o suficiente? Será que estamos realmente incluindo e trabalhando para enxergarmos com igualdade a pessoa com deficiência, ou mesmo o diferente? Até que ponto somos receptivos a pessoas que não se encaixam?


Aprendemos do texto bíblico que somos todos feitos à imagem e semelhança Divina. Somos conclamados pelo profeta: “Aprendam a fazer o bem. Dediquem-se à justiça; Ajudem os injustiçados.”[iii] Emor nos chama a enxergar os excluídos de nossa vida religiosa, ressignificar o texto e entender que o sacerdote do templo não existe mais, mas que a riqueza de nosso povo, com todas as suas formas, cores e sabores, nos aproxima do Divino, e nossa maior obrigação é de sermos sagrados.


Shabat Shalom.



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