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Parashat Emor - Vaicra 21:1-24:23

A parashá Emor é parte do que acadêmicos chamam de “Código Sagrado” uma série de regras para a manutenção do aspecto sagrado dentro do povo. É sempre importante lembrar que a palavra que traduzimos por “sagrado” em hebraico – Kadosh – significa separado, um aspecto que rege as regras de sacralidade do código compreendido entre os capítulos 17 a 26 de Vaicrá.


A parashá fala de instruções para os sacerdotes, que incluem regras para casamento e luto. São mencionados os chaguim: Pessach, Shavuot, Rosh Hashaná, Iom Kipur, Shavuot e Shabat. Então, entra uma história acerca do filho de Shelomit (uma judia casada com um egípcio) que briga com outro homem israelita. Durante a briga o filho de Shelomit acaba blasfemando, e é condenado à morte por apedrejamento. A parashá acaba com a lei de Talião.


Hoje, quando me sentei para estudar, estava certa de que iria falar sobre o filho de Shelomit, porque a história me incomoda em muitos aspectos. No entanto, eu li o jornal, e a Torá gritou em meu cérebro. A notícia trazia a frase do Primeiro Ministro de Israel, Bibi: “Não importa onde você se esconda; nós vamos te encontrar. Quem nos ferir, esteja preparado para morrer”. “Fratura por fratura, olho por olho, dente por dente”[i] “vida por vida”[ii].


Estamos vivendo um momento de fundamentalismo, extremismo, interpretação literal do texto bíblico, afastamento de nossos valores morais enquanto povo sagrado. Ramban[iii] explica: “Isso não significa um animal real, que ele deve comprar para ele um animal semelhante ao seu [que foi morto], mas sim que ele deve dar a ele uma compensação monetária igual ao dano que ele causou. Da mesma forma, fratura por fratura, olho por olho [também significam compensação monetária], de acordo com a opinião de nossos rabinos.”


Tirar a vida de outra pessoa, mesmo que seja um assassino, não é algo que a literatura rabínica traga com simplicidade. É a esta complexidade de regulamentos estabelecidos pelos nossos sábios no Talmud[iv] que Ramban se refere. Você não deve pagar resgate para salvar a vida de um assassino, mas as limitações e complexidades para realmente se chegar ao extremo de tirar a vida de uma pessoa vão muito mais além da maneira simplista e populista que o político fala e aplica.


A Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, figura no texto bíblico como herança babilônica, pertencente ao Código de Hamurabi. Lá a lei era mais severa, e quando incorporada à lei judaica já foi suavizada, e posteriormente interpretada pelos sábios do Talmud e interpretações posteriores de maneira a substituir a retaliação literal por compensação financeira. Ao pacifista indiano Mahatma Ghandi é atribuída a frase “olho por olho, e o mundo acabará cego”.


Estamos surdos, estamos cegos, estamos literalmente nos matando. Eles nos matam, nós os matamos, cada um por seu motivo entende que está seguindo o comando divino. Não nos escutamos, mas escutamos a voz oculta de uma divindade que manda que nos matemos mutuamente?


A morte impurifica[v] e o sangue derramado grita das entranhas da Terra[vi]. Que possamos nos guiar por um Deus que ama e protege; por um texto bíblico que nos impõe tratar o outro como a nós mesmos, por valores morais que preservem a vida e construam um futuro melhor; por ensinamentos que incluam a escuta, o diálogo, o divino em cada um de nós.


Shabat Shalom


[i] Vaicra 24:20 [ii] Vaicra 24:18 [iii] Rabi Moses ben Nahman (1194–1270), comumente conhecido como Ramban viveu na Espanha até mudar para Jerusalém no final de sua vida. [iv] Bava Kama 83b [v] Vaicra 21:1 [vi] Bereshit 4:10

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