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Parashat Bo - Shemot 10:1 – 13:16

Esta semana lemos o final das pragas, o início da redenção dos filhos de Israel para que deixem de serem escravos e tornem-se um povo livre.


Todos nós vamos, “jovens e velhos, nossos filhos e nossas filhas”[i]. Um coletivo que não deixa ninguém para trás, não abre mão de seus integrantes. Esse é o primeiro passo dado por Moshé para fazer dos escravos, de quem identidade e auto-estima foram extirpadas, se tornarem um coletivo. A afirmação me fez pensar em como alguns sofrimentos profundos podem causar a divisão ou a vontade de se desligar de uma identidade que te denuncia como vítima. Assim foi para muitos de nossos antepassados e membros do nosso povo, que sofreram durante a segunda guerra os horrores da Shoá. Assim ainda é com pessoas que sofrem outras formas de violência, infelizmente tão comuns em nossas vidas.


Ser vítima traz diversas dores, posteriores ao ato violento em si. Ser marcado não somente pela violência, mas também pelo desejo de esconder a violência. Sobreviventes tentaram apagar suas tatuagens, em uma busca desesperada por esquecer. Vítimas de bullying mudam de escola, tentando deixar para trás suas dores, e começar novamente.


A rabina Toba Spitzer propõe a importância da identidade como forma de superação para os israelitas em seu momento de liberação: “Ao pintar suas portas, os israelitas reivindicavam sua identidade e, ao mesmo tempo, tornavam pública sua rebelião... Eles se marcaram como escravos e se marcaram como livres.” Para ela, era preciso se identificar, nomear a dor, para seguir em frente: “A fim de dar um passo para se tornar um povo livre, os israelitas tiveram que se marcar. Um primeiro passo essencial em qualquer jornada rumo à libertação é a disposição de se identificar.”


Nomear a dor, se colocar em pé e assumir a violência sofrida, reconhecer a marca que o corpo e a alma carregam em virtude desta dor. Passos enormes, doloridos e corajosos, mas absolutamente necessários para o encontro da redenção. Os israelitas somente se tornaram um povo livre porque clamaram por ajuda e foram ouvidos, porque se levantaram, se identificaram, e decidiram caminhar para a liberdade. O caminho, já sabemos, foi longo e tortuoso; não há uma promessa de redenção passiva e fácil.


No caso de vítimas de bullying, abuso e outras violências de nossos dias, se identificar e buscar ajuda é a única forma de redenção. No pós Shoá, nos mantemos livres graças à força, coragem e determinação dos sobreviventes que se levantaram, se identificaram, e se dedicaram a registrar e recontar os horrores que passaram. Agora é nossa responsabilidade continuar a contar para nossos filhos, e para os filhos de nossos filhos, que não somente fomos escravos do Faraó em Mitsraim, mas fomos também escravos da maldade humana, que nos aprisionou, nos matou e não agiu para nos proteger.


Precisamos manter nossa identidade, escolhendo agir como um grupo coeso: jovens e velhos, homens e mulheres. Precisamos nos identificar com a opressão do passado e nos marcar para a quebra de todas as amarras de opressão. Nós somos responsáveis, como grupo e individualmente a eternamente lutar pelo respeito entre humanos e pela liberdade. Lembremos que fomos escravos no Egito, lembremos que fomos vítimas da Shoá.


Hoje é Dia Internacional da Memória do Holocausto, designado pelas Nações Unidas, marcando a data em que Auschwitz foi libertado em 1945. Jamais esqueceremos.


Shabbat Shalom.




[i] Shemot 10:9

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