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Parashat Bo - Shemot 10:1-13:16

A parashat Bo, em realidade, é uma parashá terrível. Fala de escuridão, morte de primogênitos, furto, sangue, sacrifício. Fala do sofrimento dos egípcios porque o coração do faraó foi endurecido por Deus. Aprendemos a olhar o nosso lado da história, que é o da proteção – os israelitas não sofreram com estas pragas; o dos libertos. Fazemos como comanda a parashá: recontamos a história e celebramos.


A parashá inicia com uma invasão de uma nuvem de gafanhotos, que comem o que restou dos alimentos da terra, como que em uma lembrança de que a história toda começa com Iossef gerando riquezas para o faraó através da estocagem de alimentos para os sete anos de seca previstos.


Então, chega o décimo primeiro sinal: “Estenda o braço em direção ao céu para que haja escuridão na terra do Egito, uma escuridão que pode ser tocada”. O que pode ser uma escuridão que pode ser tocada? Há quem entenda, baseando-se na ciência, que seja uma tempestade vinda do Saara, chamada ‘hamsin’. Mas, por ser uma escuridão que atacou somente os egípcios, que vinham sofrendo com todos os sinais e maravilhas que vinham assolando-os, provavelmente esta escuridão era atrelada ao sofrimento profundo. Um sofrimento tão assolador que era possível tocar. Não suficiente este sofrimento, a série termina com a morte dos primogênitos. Filhos, pais, avós, gado, a morte veio esmagar todas as famílias egípcias.


Tristeza, medo, angústia, depressão, são escuridões que apertam o peito, doem tanto que se tornam tangíveis. Se Mitsraim é o local estreito, da falta de perspectiva e sofrimento, que todos enfrentamos em algum lugar de nossas vidas, esta escuridão é a dor do isolamento, do medo, do distanciamento. Os primogênitos de ontem, são as vítimas de hoje.


Não gosto da ideia de intervenção Divina como fonte da pandemia, ou dos sofrimentos humanos. Somos muito pequenos, achar que todo acontecimento vem para nos trazer uma lição é uma vaidade humana que não tenho. As coisas simplesmente acontecem. Ciclicamente uma doença aparece, o humano se enraivece e cria a guerra, uma catástrofe natural abala alguma região do planeta. Simplesmente vai acontecer. De novo, de novo e de novo.


O que fazemos então? Criamos espaços sagrados, lugares de proteção e abrigo. Marcamos nossas portas, convidamos alguém para dividir o sacrifício e não deixamos para amanhã. Nos juntamos em comunidade, arregaçamos as mangas, sovamos e assamos o pão.


Como disse o poeta israelense Asaf Avidan:

“Nada nunca dura

A não ser a escuridão que dilata

Através das cortinas do nosso passado

Para os passos que queremos dar

Mãe, você não pode ver?

Eu tenho uma escuridão brilhando através de mim”


Todo período de dor é Mitzraim, sempre haverá um lugar ou tempo melhor afrente, o caminho para chegar neste momento é o deserto. Então, à noite, rezamos: “Revela a luz a partir da escuridão, e a escuridão a partir da luz”, pedimos para enxergar o outro lado, mas não podemos esquecer que a única maneira de chegar lá é dar as mãos, e marchar juntos.



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