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Parashat Bereshit - Bereshit 1:1 – 6:8

A leitura da Parashat Bereshit imediatamente nos leva a questionar quando e onde é o começo. Especialmente, o que havia antes de tal começo? Houve um fim? Se olharmos o texto bíblico e o considerarmos dentro do calendário judaico, podemos pensar que havia algo antes da desordem que levou à criação. Talvez um final tranquilo, que causou o caos e, portanto, a necessidade de organizar o mundo.


O período de Chaguei Tishrei – Festividades do mês de Tishrei – é uma mistura de finais e começos. O fim do ano judaico e o início de um novo em Rosh Hashaná; Yom Kipur, enfrentando a morte e escolhendo a vida; Sucot, quando colhemos os frutos, terminando a estação com orações por chuva durante a próxima estação, em Shemini Atzeret; e Simchat Torá, terminando e iniciando um novo ciclo de leituras da Torá. Para quem vive sob o calendário judaico, esta temporada traz um certo caos às nossas vidas, que estão suspensas pelas diversas e complexas séries de Chagim, mas devem ser retomadas com o final da temporada. Terminamos a temporada de festivais e começamos novamente, desde este maravilhoso caos, com um mês sem festivais judaicos.


Vida e morte, fim e começo são temas significativos do último festival da temporada, Simchat Torá. Na parashá final da Torá, V'zot Hab'rachah, lemos sobre a morte de Moisés e então, imediatamente, parashát Bereshit, com a criação do mundo e seus habitantes.


Minha avó, de abençoada memória, no fim da vida, costumava colecionar histórias de pessoas morriam que morriam de maneiras que ela considerava boas: dormindo, ouvindo ópera, na própria festa de aniversário... Certamente, a morte de Moisés retrata o ápice desses finais abençoados: “vaiamut sham Moshe, eved Adonai, be'eretz mo'av, al-pi Adonai – Então Moisés, o servo de Adonai, morreu ali, na terra de Moab, por ordem de Deus” ou, como explica Rashi: pelo Divino beijo.


Parashát Bereshit, a parashá desta semana, marca outro início do ciclo de leitura da Torá, com a frase: “Bereshit bara Elohim et hashamayim ve’et ha’aretz. Veha’aretz haytah tohu vavohu – quando Deus estava prestes a criar o céu e a terra, a terra era um caos, sem forma”. As primeiras palavras de nossa jornada nos dizem que o ponto de partida da criação é o caos absoluto.


Em contraste com a desordem antes da criação que inicia nosso texto sagrado, a morte de Moisés, o final do texto bíblico, retrata um final muito tranquilo: olhando para a terra de seus ancestrais, ele se foi pelo beijo de Deus. A mesma vida que é criada em Bereshit por “nishmat chayyim” o sopro de vida de Deus, terminada pelos lábios de Deus. Movimento versus tranquilidade.


Movimento ou mesmo a turbulência do universo antes da criação, é o que sugere o professor James A. Diamond como o impulso para a criação do mundo. “O universo em seu estado primitivo traiu uma desorganização e total falta de ordem que Deus achou intolerável e sobre a qual Ele se sentiu compelido a impor ordem…. A perplexidade é o catalisador dos impulsos criativos de Deus, que se sente impelido a moldar a criação em algo ordenado, definido, planejado e imbuído de sabedoria”.


Bereshit traz ordem ao universo desordenado, e então criação e vida. Começamos com a criação da luz e de um mundo ordenado onde habitarão as criaturas vivas. Terminamos com a saída pacífica da vida do maior líder do nosso povo. Entre a morte e a vida, fim e começo, vive a esperança de uma terra futura, onde encontraremos mel e leite, mas também há caos e espanto que nos reconduz ao nascimento e à criação. A Torá, nossa Árvore da Vida, é como nossas próprias vidas: começamos quando nascemos, terminamos quando morremos e, no meio, há uma jornada de inúmeros ciclos de finais e começos, e muitas vezes nos é oferecida a oportunidade de começar de novo a partir do caos de nossas próprias experiências passadas.


À medida que um novo ano judaico e ano acadêmico começam, também iniciamos um novo ciclo de leitura da Torá. O início de Bereshit, de acordo com a rabina Tamara Cohn Eskenazi, “….[D]escrever o desenvolvimento humano como uma série de transgressões e transformações em que Deus e a humanidade descobrem e desenvolvem seu relacionamento”. Durante este novo ano faremos boas e más escolhas; cometeremos erros e teremos que corrigi-los; construiremos novos relacionamentos e, esperançosamente, desenvolveremos nossos antigos.


Que possamos, durante este novo ciclo, moldar a desordem causada pelos chagim em um ano ordenado, definido e planejado, imbuído de sabedoria, significado e espiritualidade. Mas que também estejamos abertos a novas aventuras, novas experiências e novos começos brilhantes que trarão alguma desordem e cor às nossas vidas.


Shabat Shalom!



(original em inglês, escrito para o Leo Baeck College: https://lbc.ac.uk/16716-2/ )

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