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Parasha Vaierá - Bereshit 18:1-22:24

A magia de Bereshit é que cada parashá tem um mar de histórias. Esta semana Avraham recebe os dois homens/anjos, que informam que Sara terá um filho em um ano. Acontece a história de Sodoma e Gomorra, Lot e suas filhas. Sara é apresentada como irmã de Avraham e é levada por Avimelech para seu palácio. Sara dá à luz Itzhak, amamenta e acontece a festa de seu desmame. Hagar é expulsa da casa de Avraham com seu filho e ambos quase morrem no deserto. Avraham leva Itzhak para ser sacrificado, mas é interrompido no último segundo por um anjo. A linhagem do irmão de Avraham indica o nascimento de Rebeka.

Tantas histórias que podem ser vistas como desconectadas de um sentido único, mas que ao mesmo tempo, têm temas recorrentes que me chamam atenção e incomodam.

O primeiro tema é a mulher retratada como ser sexual. Sara é mais uma vez entregue ao rei de um lugar, após ser apresentada como irmã de Avraham, e mais uma vez ele recebe gado, dinheiro e favores por ter dado sua esposa. Lot oferece suas filhas virgens a um bando de pessoas sedentas por sexo violento, para salvar seus visitantes desconhecidos. Hagar, depois de usada é jogada fora.

O segundo tema é a mulher como máquina reprodutora. Sarah, que não tinha valor nem poder antes de ter um filho, agora é celebrada e todos riem com ela. Hagar, que deu o real primogênito de Avraham, agora é expulsa, pois seu filho não é mais necessário. As duas filhas de Lot o embebedam, fazem sexo com o pai, pois entendem que delas depende a continuidade da humanidade, ao pensarem que todos foram destruídos junto com Sodoma e Gomorra.

O terceiro tema é o sacrifício dos filhos. Lot oferece as duas filhas, que seriam sacrificadas em estupro coletivo pela população de Sodoma, caso tivessem sido aceitas. Avraham primeiro expulsa seu filho mais velho de casa e, ao entregá-lo à própria sorte com a mãe, de certa forma o entrega a Deus em sacrifício. Depois, Avraham chega a amarrar Itzhak na lenha e pegar a faca para sacrificá-lo, até que o anjo grite duas vezes por seu nome, interrompendo sua ação.

E a pergunta final: Onde estava Sara na hora da Akedat, no momento em que Avraham decide sacrificar seu filho? Onde está a voz de Sara? Nesta pergunta enxergo o grito calado de todas e todos estes personagens que foram expostos à dor de serem objetos nas mãos daqueles que deveriam protegê-los.

Dor, sexo, sacrifício; a parashá desta semana parece nos gritar sobre as falhas de nossos antepassados. Parece estar neste lugar para nos chamar a atenção para como, ao nos entregarmos cegamente a uma atividade, podemos ignorar os humanos que dependem de nós, que acreditam que em nossas mãos estão seguros. Parece nos chamar para olhar a dor do outro, a fragilidade do outro e nossa responsabilidade no mundo com relação ao outro.

Nesta semana, em que vimos a fragilidade de ser mulher na sociedade e no sistema jurídico brasileiro, nossa parashá nos chama a cuidarmos uns dos outros, em especial nos momentos em que é preciso proteção, cuidado, ajuda.

Acabo esta semana com uma prece:

Meu Deus, me dê forças para levantar e encarar este mundo cheio de imperfeições. Me dê calma, para suportar a incerteza e a verdade de que há muitas coisas que não posso mudar. Abra meu coração para aqueles ao meu redor e me ajude a cumprir melhor Seus ensinamentos, a sua Torá, de amar o outro como a mim mesma. Me ajude a lembrar sempre que somos todos criados à Sua divina imagem e semelhança. E que assim possamos construir um mundo melhor, com justiça, compaixão e amor.

Shabat Shalom.

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