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Oitavo dia de Pessach - Devarim 15:19-16:17

Celebramos ou não o oitavo dia de Pessach? A discussão é longa, envolve posicionamentos pessoais, comunitários e mais coletivos, como o pertencimento a Am Israel – o povo de Israel. E embora minha prática pessoal seja de celebrar Pessach em sete dias, como estabelecido na Torá, minha paixão pelo texto bíblico me leva a estudar também este texto, me encantar também com esta leitura, como estabelecido por nossos sábios do Talmud. Proponho então uma leitura quase que conjunta do texto de hoje e o de ontem, um conjunto escolhido por nossos sábios do passado para celebrar o final da festa de Pessach.


O trecho que leremos hoje trata dos shalosh haregalim, as três festas de peregrinação a Jerusalém. Como Moshé sabia que haveria um dia um lugar indicado para fazermos peregrinação? Devarim, ou Deuteronômio, o livro da Torá do qual lemos este trecho, é o “livro da Lei”, encontrado pelo sacerdote Hilkia e entregue ao rei Josiah de Judá no ano de 621 AEC. De acordo com a teoria documental de estudo do texto bíblico, entendemos que ele foi composto muito depois dos outros livros da Torá, como um adendo final, composto por profetas, sacerdotes, escribas ou mesmo pela casa real, em busca de uma prática mais zelosa do judaísmo, como lemos na introdução ao livro de Devarim do Chumash Plaut.


Porém, não é esta a questão na qual pretendo focar hoje, mas na ideia de que, no último dia do chag lemos sobre as leis do sacrifício de Pessach, mas também lemos sobre a contagem das sete semanas – o Omer, como falamos no Cabalat Shabat – sobre Shavuot e sobre Sukot. É o final, mas a vida continua, e há um futuro a olhar, algo a esperar, o tempo continua a ser contado.


Já o trecho de ontem começa com a saída de Mitsraim, até o mar, a travessia e a alegria de realmente estarmos livres. O texto conta que Moshé levou consigo os ossos de Iossef – José, como prometido em seu leito de morte. O comentarista medieval Rabbeinu Bahya explicou que, “Enquanto os israelitas ainda estavam preocupados com questões materiais, como exigir prata e ouro dos egípcios, Moisés estava preocupado com questões mais nobres, necessidades da alma, cumprindo o mandamento de cuidar para que Iossef acabasse sendo enterrado em Eretz Yisrael.”. Enquanto os Israelitas olhavam afrente, Moshé olhou para trás e se lembrou da palavra de seus antepassados, levando consigo a memória dos bons dias de seu povo em Mitsraim, a lição dos bons feitos de Yossef. Aprendemos com Moshé a manter a memória de nossos antepassados viva, cumprindo suas promessas, e lembrando de seus feitos.


No entanto, ao chegarem diante do mar, os mesmos israelitas pararam com o medo e olharam para trás. Então são ordenados a continuarem andando para frente, ao invés de clamar a Deus. Porque há momentos em que precisamos fazer, marchar, e que rezar somente não é suficiente, precisamos ir adiante.


Hoje acaba o período de Pessach, ou ontem acabou o período de Pessach. Desde o segundo dia da festa iniciamos nossa caminhada adiante, em direção ao Sinai, com a contagem do Omer. Hoje nos lembramos daqueles que ficaram, aqueles cujas vidas lembramos, cujas memórias mantemos vivas. Não carregamos seus ossos, mas seus ensinamentos, por todos os dias de nossa vida, por toda a nossa jornada. Mas não nos mantemos presos nos momentos do passado, continuamos caminhando, independente dos desafios e obstáculos, independente dos tempos terminados, porque sabemos que há mais para esperar, um futuro a olhar. Peregrinamos Pessach, Sukot, Shavuot e depois novamente, e novamente. Carregados do passado, mas com o olhar no futuro.



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