Como bem coloca Tamara Eskenazi, a parashá Noach poderia ser intitulada “Começando novamente”. Deus se desaponta com o rumo que a humanidade no geral tomou, mas reconhece em Noach, sua mulher, seus filhos e noras a retidão para reiniciar a humanidade e toda a criação.
Do ponto de vista feminino, o interessante desta parashá é ver que, apesar de mencionada cinco vezes, a esposa de Noach, aquela que foi escolhida para ser a nova mãe da humanidade, construir a continuidade da criação junto de Noach e sua família, não tem nome. Também não têm nome suas noras, as mulheres desta parashá são só menções sem nome, talvez para justificar o fato de Noach e seus filhos conseguirem procriar e continuar a popular a criação. Mas será que elas foram só isto?
Se Noach foi escolhido por ser o único homem bom que havia no mundo, é justo entender que sua esposa também foi escolhida por ser a única mulher boa, afinal, de que valeria reinventar a humanidade com uma mãe que não fosse um bom início? A falta de nome para a esposa de Noach incomodou inclusive os sábios, que decidiram, em Bershit Rabba 23:3, que o nome dela seria Naamá, agradável. Então, como era o feitio de nossos sábios, todas as histórias possíveis sobre ela foram contadas: desde que ela era linda e aprazível, até que ela tocava o tambor para ídolos.
O mais lindo texto sobre Naamá é do rabino Paul Kipnes:
“Fale meu nome, diz a esposa anônima de Noé. Cinco vezes a Torá me menciona, nunca pelo nome (Gn 6:18; 7: 7, 13; 8: 16,18). Eu entrei na arca com ele. Nós saímos juntos. Você não imagina que trabalhamos juntos também?
Nós formamos uma parceria. Através das chuvas e da inundação, a alimentação e a coleta de sementes, a cavalgada e o replantio. Juntamente com o Criador, recriamos este mundo novamente.
Eu sou Naamá, filha de Lameque e irmã de Tubal-Caim (Gn 4:22). Meu nome significa agradável, pois minhas ações eram agradáveis (neimim), como minha beleza (alguns dizem) era agradável (B'reishit Rabbah 23: 3). Eu estava escondida na Torá, mas fui lembrada pelos rabinos, e escolhida pelo Misericordioso, para ser consoladora de um novo mundo. Sim, consolei nossos filhos depois que eles suportaram a embriaguez de Noé. Depois que Noé os amaldiçoou (Gênesis 9: 20-25).
Ainda assim, os rabinos silenciaram minhas contribuições, imaginando-me idólatra e sedutora de homens (Breisit Rabá 4:22). Eles disseram que, como Lilith, eu danifico crianças e abuso das pessoas durante o sono (Zohar, B'reishit 4: 7). Por que foi tão difícil para eles reconhecerem minhas realizações? Fale de mim, para que não conspire em me calar também.
Eu sou Naamá. Lembre do meu nome.”
Comments