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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Nitzavim - Devarim 29:9-30:20

Nitzavim é uma das minhas parashiot preferidas. Não por suas histórias, suas narrativas, elas são ausentes desta parashá, que é mais um trecho dos discursos de Moshé logo antes de sua morte e da entrada do povo na Terra Prometida, mas porque nela temos alguns conceitos que para mim são centrais no judaísmo, ou ao menos, na forma que eu abraço o judaísmo. Em uma das passagens mais bonitas da Torá, Moshé diz:


“Certamente, esta Instrução que ordeno a você neste dia não é muito desconcertante para você, nem está fora de alcance. Não está nos céus, que você deve dizer: “Quem dentre nós pode subir aos céus e buscá-la para nós e transmiti-la a nós, para que possamos observá-la?” Nem está além do mar, que você deve dizer: “Quem de nós pode atravessar para o outro lado do mar e obtê-la para nós e transmiti-la a nós, para que possamos observá-la?” Não, ela está muito perto de você, na boca e no coração, para observá-la.”[i]


Se entendermos “a Instrução” ( הַמִּצְוָ֣ה - mitsvá em hebraico) como toda a Torá, a imagem é absolutamente fantástica. A Torá não é algo incompreensível, inatingível, que necessita de alguém para transmiti-la ou que está tão longe que é preciso viajar milhas ou fazer esforços hercúleos. Não... ela está em sua boca e em seu coração. Isto não significa que não é preciso estudar, aprofundar, compreender cada vez melhor. Mas é necessário que ela seja parte de você e venha dos seus melhores sentidos.


Também é possível pensar que para uma relação com Deus, com a Shechiná, não é preciso intermediários, atravessar mares e subir montanhas. É preciso buscar no coração, nas próprias palavras, em seus atos cotidianos, na maneira que vivemos a vida. Conversar com o Divino cotidianamente, não somente nas tefilot pré-ordenadas pelo sidur, mas com as palavras que te fazem sentido.


Em outro ponto de vista, a acadêmica Ilana Kurshan, traz o pensamento de Nachmanides e Sforno, que entendem que “a Instrução” é teshuvá, arrependimento, que é o assunto que antecede esta passagem. Assim, a teshuvá seria algo que não te é estranho ou exterior, mas deve partir de seu coração, suas palavras e seus atos. Só depende de você, e não dos outros.


Nas palavras dela: “Na época do ano em que nossa tradição nos convida a corrigir nossos caminhos e a nos comportar de maneira mais adequada, sempre há a tentação de olhar para fora e não para dentro. Talvez culpemos outra pessoa, esperando que ela se desculpe primeiro conosco, em vez de nos envolvermos em nosso próprio trabalho espiritual. Talvez digamos a nós mesmos que vamos esperar que as circunstâncias mudem – que as estrelas e constelações se realinhem a nosso favor. Mas (...) a obra do arrependimento depende somente de nós. Como Lori Gottlieb escreve em seu livro best-seller sobre o funcionamento da psicoterapia, Maybe You Should Talk to Someone, “Em algum momento, ser um adulto realizado significa assumir a responsabilidade pelo curso de sua própria vida e aceitar o fato de que agora você é responsável por suas escolhas.” Temos que assumir a responsabilidade por quem fomos, e só assim podemos transformar quem nos tornaremos. Este não é um trabalho fácil, mas também não está fora do nosso alcance. É o trabalho de nossas bocas e o trabalho de nossos corações nesta época de arrependimento e retorno.”


Que neste ano que inicia possamos entender que somente nós podemos fazer com que nós mesmos nos tornemos pessoas melhores. Que está em nossas mãos tomar atitudes para construir um futuro melhor. Que podemos tomar estas atitudes baseados nos ensinamentos da Torá que falem ao nosso coração, porque eles estão aí, ao nosso alcance, para viver através deles. Que a relação com o Divino, com a Shechiná, parte de nosso coração, para nossa boca, e assim nos auxilia a lidar com tudo aquilo que a vida nos trás, e nos aproxima do melhor de nós mesmos.


Shabat shalom e Shaná Tová uMetuká!




[i] Devarim 30:11-14

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