top of page

Nasso

Esta parashá, que começa e termina com assuntos administrativos como a contagem dos Levitas, homens, em idade de servir no templo e as doações feitas pelos clãs de Levitas ao serviço do Templo, tem em seu meio três assuntos que parecem totalmente desconectados e nos brinda com a benção dos Cohanim. Primeiro, nos deparamos com a apropriação indevida sem intenção, vista como uma traição (maal). Uma vez que o traidor se dá conta, deve reparar seu dano com a devolução do bem adicionado de 1/5. Então encontramos o julgamento da mulher da qual o marido desconfia; julgada como culpada, passando por provação física para ser inocentada, nos damos conta de que a mulher é um bem de seu marido, e pode ser indevidamente apropriado pelo ciúmes dele. Logo após o trecho sobre a Sotá (nome dado pelos rabinos à mulher que sofre o julgamento pela desconfiança de seu marido), a Torá nos traz regras relativas ao Nazir – homem ou mulher que se dedica por um período determinado ou a vida toda a Deus, através de privações em sua conduta. O Nazir não corta o cabelo, não ingere nada que tenha uva e não fica próximo a cadáveres. Ele deve se manter puro e sóbrio. O que o Nazir tem a ver com a Sotá? Se o Nazir não corta seu cabelo, a Sotá tem seu cabelo exposto ao povo em seu julgamento, em uma espécie de humilhação. Enquanto o Nazir controla seu espírito e suas vontades, a Sotá é acusada de se deixar levar por seu desejo e seus impulsos. Nos dois casos, o Sacerdote tem um papel ativo de executar um ritual. A justaposição traz em si uma lição moral de que não devemos nos deixar embriagar, levar por nossos impulsos, e perder a santidade e devoção, que são as características esperadas dos integrantes do povo de Deus. Devemos ter consciência e controle. No entanto, o Nazir é voluntário em seu voto de controle; ele faz sua dedicação. Enquanto a Sotá é levada ao templo por seu marido, como um bezerro ao sacrifício. É humilhada, exposta, amarrada, usada como exemplo em um ritual que foi descrito com mais detalhes sórdidos por nossos rabinos da Mishná do que a própria Torá. Ler o texto bíblico e ler o comentário rabínico acerca deste processo é doloroso, humilhante e revoltante a uma mulher, como a descrição de um estupro. Em um mundo onde os impulsos sexuais das mulheres causam raiva e constrangimento, não deveríamos nos surpreender ao descobrir uma quantidade tão grande de agressão em relação a uma mulher que ousou dar liberdade aos seus desejos sexuais. Em um texto que estabelece a ordem do patriarcado, não devemos nos surpreender ao nos deparar com a objetificação e diminuição da mulher que indica força. Nos dias de hoje, devemos clamar por nosso lugar e nossa voz nesta narrativa, pelo nosso direito ao desejo, ao prazer e ao protagonismo.

0 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page