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Mishpatim - Shemot 21:1−24:18

“Eu defendo a escolha da Torá de incorporar temporariamente os males sociais pela crença de que o futuro mundo ideal é mais bem realizado pelo método da aliança. A parceria com Deus e entre as gerações - trabalhando por meio do gradualismo, concessões, respeito pela natureza humana e a dignidade até mesmo dos oponentes, e nunca cessando até que o reparo completo seja alcançado - pode ser mais lenta e moralmente comprometida, mas é mais provável que atinja o objetivo. Reconheço o alto custo humano ao longo do caminho. Ainda assim, creio que há um menor tributo e menos sofrimento humano neste método.”


As palavras do rabino americano Yitz Greenberg indicam que as regras enumeradas na parashá mishpatim são um princípio realista e racional, que toma por base os usos e costumes do tempo (ou dos tempos) em que a Torá foi escrita. Elas trazem em si a ideia de que a palavra da Torá não é a última e definitiva, mas um indicativo do caminho a ser seguido para a construção de um mundo melhor, em parceria, através do pacto dos bnei Israel com Deus.


A parashá Mishpatim é, de certa forma, uma consequência ou continuação daquilo que foi iniciado com os 10 mandamentos. Aqui, o Código do Pacto, traz uma série de regras e leis, criminais e civis, imperativas ou casuísticas, que indicam um caminho moral a ser tomado pelos bnei Israel para se tornarem um povo “or la Goyim”, exemplar para os outros povos. Outras leis e regras, chukim umishpatim, serão apresentadas, indicando que nem esta nem as outras serão listas finais, mas princípios, que serão desenvolvidos ao longo da história do povo judeu.


Nossas leis nos chamam a prestar atenção ao que fazemos, porque o fazemos e quais são suas consequências. Embora nem sempre seja possível amar a letra da lei (e como judeus reformistas, selecionamos com intenção cuidadosa as leis que escolhemos viver), realmente experimentamos um sentimento de amar e de sermos amados na abordagem de nossa tradição à lei, e especialmente no curso em constante evolução da lei.


O conceito de amor para o judaísmo não é apaixonado, inconsequente, mas baseado em leis e limites. Amar não é pular cegamente em uma relação, mas ouvir as regras estabelecidas para o relacionamento e responder ‘naassê’ - faremos. É repetidamente ouvir os combinados do relacionamento e responder ‘naassê ve nishmá’ – faremos e ouviremos, ou seja, concordar com as regras deste momento, mas se manter atento às mudanças que, inevitavelmente acontecerão ao longo do caminho, escutar, e continuar renovando o pacto, o relacionamento de amor.


Reiteramos diariamente o pacto de amor com Deus rezando: “Tu tens grande amor por nós, Eterno, nosso Deus. Tua compaixão e bondade não têm limites! Assim como nossos antepassados, que confiaram em Ti a aprenderam as leis da vida, permita que também nós, hoje, possamos aprender Contigo! Queremos que nos ensine a entender e avaliar, a ouvir, a aprender e ensinar; a proteger, a realizar e manter; a compreender todas as palavras da Tua Torá. Que nossos olhos brilhem ao lermos a Torá; e que em nossos corações conectemo-nos com Tuas mitsvót; que nossos corações estejam unidos para amar e admirar a Deus, para que possamos amar e admirar as pessoas. Baruch atá Adonai, Ohev Beamo Israel beahava – Bendito sejas Adonai, que escolhes o teu povo, Israel, com amor”


De certa forma, Mishpatim representa uma transição emocional, espiritual e intelectual, à medida que se move da simples clareza dos Dez Mandamentos para um discurso jurídico mais estruturado. Representa o aprofundamento de um relacionamento amoroso na forma desafiadora comum dos relacionamentos, à medida que crescem e amadurecem. Já não é mais simples, mas é profundamente amoroso, precisamente na sua especificidade e nuance, mesmo nas suas imperfeições.


Lembro de quando eu era pequena, e passava muito tempo na casa dos meus avós, porque minha mãe trabalhava muito. Uma vez, meu avô viajou para a Alemanha, e no dia de sua volta me deu de presente o Teddy, meu urso. Na hora do almoço, eu me comportei horrivelmente, o que normalmente irritava meu avô. Ele, com saudades, não se deu ao trabalho de me repreender. Eu, pequena, tentando chamar atenção, saí chorando da mesa: “o Opa não gosta mais de mim! Ele nem me dá mais bronca!”.


Amar é cuidar, é estabelecer limites. Nas palavras do poeta Peninha: “quando a gente gosta é claro que a gente cuida...”


Mas como todo amor também é nutrido pela magia e pelo mistério, nossa parashá acaba com Moshé subindo a montanha, entrando em uma nuvem de fumaça, do fogo que consumia o topo da montanha. Uma vez estabelecidas as regras, nos entregamos à magia.


Shabat Shalom.


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