“É noite no rio Jaboque. A escuridão está em todo lugar, sobre a terra, sobre a alma. Eu me pergunto se há uma brisa suave, um fio de presença divina antes da luta. Talvez as estrelas brilhem no céu negro, talvez não. Talvez a luz da lua ilumine a água do rio, talvez não. Está quieto, mortalmente quieto, e Jacó está com medo. E de repente um redemoinho o joga. Ele cai, se contorce enquanto tenta se firmar. Quem é você? Quem é você que agarra nosso medo, que agarra nosso coração cerrado? Qual é o nome daquele que nos fere tanto?” (Rabino Karyn D. Kedar)
Na porção da Torá desta semana, Vaishlach, Jacó (Iaacov) teme se encontrar com seu irmão após muitos anos de exílio. Ele está voltando com rebanhos, escravos e sua enorme família. Para se preparar para o encontro, ele organiza seus pertences e escolhe presentes para apaziguar Esaú. Então, em sua ansiedade, ele se separa do grupo, vai para o outro lado do rio e tem uma noite agitada, lutando com uma criatura desconhecida. Uma luta que o mudaria para sempre. Sozinho, ele estava distante das razões de sua ansiedade, podia enfrentar seus medos e organizar seus pensamentos e próximas decisões.
Durante os últimos meses, tive a oportunidade de participar de 3 retiros diferentes de clérigos: a Kallah rabínica europeia em Geneva, a Kallah Liberal e a Reformista, ambas no Reino Unido. O ponto comum a elas era a dor que rabinos e chazanim carregam em seus corações. A diferença é como cada grupo escolheu lidar com esse sofrimento. Como uma aluna de quinto ano, ouvir como os rabinos têm lidado com nossos tempos, me ajudou a enfrentar minhas próprias batalhas e entender o que assombra minha alma hoje em dia. Percebi que parte do meu sofrimento vem do fato de estar longe de Israel desde a Covid, sem estar os meus amigos e familiares que vivem lá. Estou me sentindo distante, culpada e incapaz de ajudar.
Quando voltei da última das conferências rabínicas, participei do Jantar de Gala da Fundação Hadassah que me inspirou e ajudou a me identificar com o medo e a ansiedade de Iaacov. Entendi que uma parte importante da minha dor é estarmos falado quase exclusivamente sobre os mortos, que é uma grande dor que carregamos, mas parece que estamos esquecendo dos vivos; que deveríamos estar protegendo os vivos, cuidando dos feridos e lutando pelos valores em que acreditamos. Foi ouvindo sobre o trabalho de reabilitação, as vidas salvas e a dedicação daqueles que fazem milagres acontecerem na vida real que pude tocar minha dor.
Nós, Judeus progressistas que vivemos fora de Israel estamos nos sentindo impotentes. Somos julgados e responsabilizados pelas ações do governo israelense; um que não temos o poder de escolher. Nós entendemos pessoalmente as palavras de Chaim Weizmann, primeiro presidente de Israel: "Sei que tudo o que fazemos, ou deixamos de fazer, neste país, lançará uma luz ou sombra sobre todos os judeus." Hoje em dia, estamos sentindo a sombra sobre nós. Queremos ver mudanças no governo israelense, queremos ver nosso judaísmo progressista protegido, queremos ver nossos valores aplicados aos comportamentos da terra pela qual somos responsáveis. Mas como nós, judeus do mundo, podemos influenciar a política israelense? A resposta é: por meio do Congresso Sionista Mundial (WZC).
Estabelecido por Theodore Herzl, o WZC elege membros que elaborarão a política, incluindo decisões financeiras, das principais instituições nacionais israelenses. O congresso é composto por várias organizações, entre elas o Arzenu, o braço sionista do Movimento Reformista. Arzenu é a voz do judaísmo progressista dentro de uma das organizações mais poderosas de Israel, e seu poder vem do número de cadeiras conquistadas por meio de uma eleição mundial que acontecerá no ano que vem em março. Esta é a nossa oportunidade de encontrar nossas vozes e ser efetivamente representadas em Israel.
Conforme explicado por Yair Lootsteen, vice-presidente do Keren Kayemeth Leyisrael (KKL): “para os judeus progressistas em geral, e para aqueles de nós que vivem em Israel mais particularmente, o sucesso do Arzenu nas próximas eleições do WZC de 2025 é de suma importância. […] quando tivermos influência política suficiente, poderemos levar em voz alta para essas arenas sionistas nossa visão conjunta de um Israel pluralista onde judeus de todas as denominações sejam aceitos e se sintam em casa. Onde a paz não seja uma palavra suja, mas sim uma verdadeira aspiração, dentro de Israel e com nossos vizinhos. […] quanto mais poder tivermos em torno das mesas dessas instituições nacionais, mais seremos capazes de garantir que a Organização Sionista Mundial, a Agência Judaica para Israel e o Keren Kayemet LeYisrael forneçam suporte financeiro para nosso movimento em Israel, mas também para o judaísmo progressista em todo o mundo.”
Como um povo, depois de sermos libertados da opressão, não somos filhos de Avraham, Itzhak ou Iaacov. Nós nos tornamos Bnei Israel, os filhos de Israel, o homem que Iaacov se tornou depois de enfrentar seus medos e encontrar esperança. Como um povo, nós lutamos, nós tememos, nós somos feridos, mas no final, nós somos capazes de entender que, apesar da dor, nós sabemos nossas prioridades. Agora é a nossa hora de lutar, de enfrentar nossos medos, nos levantar e fazer nossas vozes serem ouvidas em Israel. Como a Rabina Karyn D. Kedar escreveu em seu poema sobre Parashat Vayishlach:
“Dentro do coração humano há medo.
Também há esperança.
Os dois lutam constantemente, como Jacó e seu Deus.
Às vezes, um prevalece. Às vezes, o outro.
A luta às vezes é silenciosa, outras vezes barulhenta.
Mas é constante — medo, esperança, medo, esperança.”
Como judeus no mundo, enfrentando nossos medos e esperando por um futuro melhor, devemos agir e fazer a mudança. Agora é hora de votarmos. Agora é hora de termos esperança.
Shabbat Shalom
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