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Matot – Massê - Bamidbar 30:2 – 36:13

Uma das semelhanças entre os judeus de todo o mundo é o ciclo de leitura da Torá. Todas as comunidades do mundo começam com a Parashat Bereshit em Simchat Torá e prosseguimos através das parashiot até Vezot Habrachá. Mas, porque alguns chaguim são observados com a adição de um dia fora de Israel, o chamado Iom sheni shel Galuiot, ocasionalmente há um soluço neste sistema e as partes que lemos em Israel e fora de Israel são diferentes. Este ano tivemos esta ocorrência, e assim em Israel, Matot e Massê são lidas separadamente, enquanto fora de Israel elas são lidas como uma porção dupla, e assim voltamos a estar em sintonia em todo o mundo.


Nestas parashiot, Moshé explica aos israelitas as leis relativas aos votos feitos por homens e mulheres. Israel faz guerra contra os midianitas e conquista suas terras. As leis relativas aos despojos de guerra são delineadas. As tribos de Reuven e Gad recebem permissão para permanecer na margem leste do rio Jordão. O itinerário dos israelitas pelo deserto do Egito ao Jordão é delineado. Moshé diz a Israel para remover os atuais habitantes da terra que Deus lhes dará e destruir seus deuses. Os limites da Terra de Israel são definidos, juntamente com os das cidades dos levitas e as cidades de refúgio. Deus faz uma distinção precisa entre assassinato e homicídio culposo. As leis de herança que se aplicam às mulheres israelitas são delineadas. E assim, acabamos o livro de Bamidbar (Números) e a história da Torá, para passarmos ao livro final, a última prédica de Moshé para seu povo – Devarim (Deuteronômio).


O texto bíblico conta que as tribos de Reuven e Gad se aproximam de Moshé com uma petição. Eles haviam notado que as terras que haviam acabado de conquistar, aquém do Jordão, ofereciam excelentes condições para a criação de animais. Por alguma razão inexplicável, eles acumularam mais gado do que os outros, e por isso pedem que aquela região lhes seja atribuída. Sua petição enfurece Moshé e ele faz um longo discurso repreendendo o pedido. No entanto, depois de ouvir que eles estão dispostos a cruzar o Jordão e lutar ao lado de seus irmãos na conquista da Terra Prometida, ele concorda com o plano deles. Este é o primeiro indício da maturidade que o povo atingiu em suas jornadas, de sua união, de quão preparados eles estão para o próximo passo: a conquista de sua terra.


A parashá Massê começa trazendo um relato do trajeto dos israelitas desde Mitsraim até a fronteira de Canaã, onde estão. “É um relato dos milagres que Israel experimentou no deserto, contextualizado pela redenção do Egito no início e a antecipação de uma Terra Prometida no final. Assim como nossas próprias vidas, a jornada de nossos ancestrais foi dividida em segmentos. Na verdade, existem 42 segmentos identificados nesta narrativa, 42 oportunidades para experimentar o Divino na jornada. E assim como fazemos antes de dar um passo para o futuro, revivemos o passado, como chegamos a este lugar” sugere o rabino Kerry Olitzky.


Trata-se de uma moldura poética: “Na leitura semanal da Torá na sinagoga, costuma-se cantar os quarenta e nove versos detalhando o itinerário dos israelitas com uma melodia especial em vez dos teamim (das cantilenas) regulares. Esta melodia é muito semelhante à melodia usada para cantar o Shitat haIam (Cântico do Mar)[i], recitado quando os bnei Israel iniciaram sua jornada, sugerindo que o itinerário das “viagens”, das quais a Parshat Massê leva seu nome, é na verdade, uma canção própria, paralela a Shirat haIam. Como tal, podemos pensar em Shirat haIam e Massê como suportes de livros, flanqueando os quarenta anos de peregrinação em canto poético.” Ensina a acadêmica Ilana Kurshan.


Após a descrição dos limites da Terra Prometida, para que esta seja conquistada e dividida entre as tribos que se assentarão e povoarão o território, o texto retorna à questão das filhas de Tselofechad. Como ressalta a rabina Lisa Grushkow “Anteriormente, elas ganharam o direito de herdar de seu pai; aqui, suas perspectivas de casamento são limitadas a manter suas propriedades dentro de sua tribo. Assim como Deus considera seu pedido original correto, aqui também Deus afirma as preocupações de sua tribo. Do ponto de vista dos indivíduos que reivindicam seus direitos, este julgamento revisto é um retrocesso. Do ponto de vista de um povo equilibrando reivindicações concorrentes, vemos um paralelo com o tratamento do pedido de Reuben e Gad. Ninguém consegue exatamente o que quer, mas todos conseguem o que precisam.”.


Bacharel em direito que sou, imediatamente lembro do princípio da supremacia do interesse público sobre o privado. Em virtude deste princípio, o direito deixa de ser apenas um instrumento de garantia dos direitos dos indivíduos e passa a objetivar a consecução da justiça social e do bem comum.


Um povo unido, como mostra o caso das tribos transjordanianas; um povo que tem consciência do coletivo, como mostra a resolução definitiva do caso de Machlá, Tirtsá Choglá, Milcá e Noá, filhas de Tselofechad; um povo que conhece sua história e reconhece que não está sozinho. Em toda a jornada, nas conquistas e nos momentos difíceis, Deus está perto, cuidando desta relação. Cabe a nós, ao longo de nossa jornada, registrar, contar, reconhecer e agradecer a presença Divina em nossos caminhos. E assim nos fortificamos.


Chazak, Chazak, veNitchazek.


Shabat Shalom.


[i] Êxodo 15

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