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Foto do escritorAndrea Kulikovsky

Lua, sangue, corpo e alma.


 

Neste sábado leremos a Parashat Tazria, onde lemos sobre dois casos de impureza do corpo: a puérpera e a pessoa com doença de pele. Em ambos os casos, estas pessoas são separadas das suas vidas normais e do resto da comunidade, até que o seu estado anormal passe e o Cohen as receba de volta com rituais especiais. Com este texto reconhecemos os estados liminares, as experiências fora da norma. Entendemos que o tempo de cura é importante para o processo de retorno à comunidade e à santidade.

 

Quando eu era mais jovem, só conseguia ver a feiúra e o sexismo da parashat Tazria. Me parecia profana a ideia de que dar à luz era algo que fazia com que a mulher se tornasse infecciosamente impura, especialmente se o bebê fosse uma menina, causando o dobro do tempo de impureza. Os versos subsequentes que falam sobre tsaraat, a estranha doença que pode afetar o corpo, as roupas e a casa, tornaram a parashá ainda menos atraente.

 

A rabina Dra. Rachel Adler ensina que “Tumá (impureza) é o resultado de nosso confronto com o fato de nossa própria mortalidade. É a descida para a escuridão. Tahará (limpeza ritual) é o resultado da reafirmação da nossa própria imortalidade. É a reentrada na luz. Tumá é diabólica ou assustadora apenas quando não há mais vida. Caso contrário, tumá é simplesmente parte do ciclo humano. Ser tamê (impuro) não é errado nem ruim. Muitas vezes é necessário e às vezes é obrigatório.”

 

As mulheres têm esta ligação inexplicável com os ciclos do tempo. Repetidamente, o tempo começa a contar de forma diferente e nosso corpo nos convida a aprender a lidar com ele novamente. Desde a infância, passando pela puberdade, depois até a idade adulta, para algumas até o parto, e depois até a menopausa. Luas diferentes e corpos diferentes. Para cada ciclo, para cada gravidez, saímos da comunidade, curamos e voltamos à santidade.

 

Hoje, depois de três gestações e um pouco mais de experiência de vida posso perceber a sabedoria do texto. Quando uma mulher dá à luz um filho, parte dela morre e uma nova parte dela nasce. Ela se torna uma pessoa diferente; o mundo se torna um lugar diferente para ela. O tempo é muito importante para uma nova mãe se reconectar consigo mesma, com seu tempo, com seu corpo e alma. Esse tempo que ela fica sozinha consigo mesma, “tamê”, é importante para ela, para o bebê e para a família.

 

Parashat Tazria é um convite para pensar sobre eventos que mudam a vida e que afetam seu corpo e alma. Sobre a necessidade de se separar para se curar, para conhecer a nova pessoa que se tornou após ser afetada, sendo Tamê. Parashat Tazria trata de reservar um tempo para se tornar sagrado novamente.

 

Esta semana, a parashat Tazria me inspirou na poesia (a primeira que escrevi originalmente em inglês!):

 

Lua, sangue, corpo e alma.

 

Meu corpo feminino não é meu.

Pertence à lua,

Ditando ciclos

Mudando meu humor,

Inundando meus dias.

 

Pertence à criança

Que mudou meu corpo

Fazendo milagres

Tornando-me impura,

Inundando meus dias.

 

Pertence às estações

Calor e chuva

Incerto, imprevisível.

Mudando meu corpo, mudando meu humor

Inundando meus dias.

 

Pertencerá à terra

Talvez ao espaço incontido

De memória e amor

Dissolvendo meu corpo

Na inundação dos dias.

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