A parashá desta semana começa com o censo dos homens em idade de exército, que doam meio shekel para o serviço religioso; passa pela instrução de construção de uma pia de limpeza para uso dos sacerdotes, da confecção de óleo e incenso para serem utilizados na unção e serviço; e pela nomeação de Bezalel e Oholiav para liderarem a construção do Tabernáculo. Deus escreve e entrega as Tábuas, o povo constrói um bezerro de ouro para servir como deus – com sacrifícios e festa – enfurecendo Deus e Moisés. A tribo de Levi se voluntaria para o serviço macabro de matar 3.000 de seus “patrícios”, Moisés interfere pelo povo diante de Deus, e sobe sozinho novamente para o recebimento dos mandamentos (desta vez as Tábuas são escritas por Moisés). Então Moisés se torna o intermediário único entre a palavra de Deus e o povo, seu rosto se torna radiante e passa a ser coberto por um véu.
Ki Tissá não fala muito para e sobre as mulheres. Fala acerca da proibição do casamento com mulheres canaanitas; fala do primeiro fruto do ventre; fala da entrega de brincos para a confecção do bezerro de ouro.
A mulher como centro da casa, como transmissora da cultura e educação em uma sociedade agricultural em formação precisava ser membro do povo, era uma questão de sobrevivência. Do ventre da mulher vinha o primeiro fruto, dedicado a Deus ou redimido através de oferendas, em uma ligação intrínseca entre o natural e o divino. A mulher e seus adornos alimentam para o bem e para o mal a relação com o divino.
De acordo com o Talmud, somente os homens contribuíram com joias para a construção do bezerro de ouro, as mulheres se recusaram a fazê-lo, recebendo em recompensa privilégios em Rosh Chodesh (tradicionalmente meio feriado para as mulheres), e no mundo vindouro as mulheres serão renovadas como a lua. Não é exatamente o que encontramos na Torá. Lá lemos que todo o povo junto, homens com suas esposas, filhas e filhos, contribuíram com jóias para a construção do bezerro e participaram de sua celebração. Um caso raro em que o Talmud é mais bondoso para com as mulheres do que o próprio texto da Torá.
Para terminar, um ápice figurativo bem feminino: nossa parashá acaba com a imagem espetacular do rosto brilhante de Moisés após sua experiência de proximidade da Presença Divina. Um brilho etéreo coberto por um véu, mas que pode ser visto e sentido. Moisés se torna a noiva neste relacionamento entre o povo de Israel e Deus.
Ki Tissá então se torna a saga do casamento: um caminho conjunto de erros e acertos; de pureza, sabores e perfumes, mas também de discordância e violência; de brigas e negociações, mas também de magia. Ki Tissá começa no cerimonial, passa pelos compromissos, mas indica que o objetivo final dessa jornada é a face estonteantemente brilhante do amor.
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