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Ki Tetsê - Devarim 21:10-25:19

A porção da Torá desta semana, Ki Tetsê, contém 72 dos 613 mandamentos. É uma parashá difícil em vários aspectos, com ordens duras, que mostra a face do tecido social de uma época específica. Nela lemos sobre leis relacionadas à captura de cativos, como lidar com um filho rebelde, leis específicas para o sepultamento de mortos, com quem você não pode se casar, e leis do divórcio, leis para tempos de guerra. Além de enumerar muitas leis, a parashá repetidamente nos pede para lembrar.


A centralidade da memória para a autocompreensão judaica emerge com grande nitidez na Parashat Ki Tetsê, que repetidamente nos leva a lembrar eventos de maneiras que afetam o comportamento e a prática contínuos: “Sempre se lembre de que você foi escravo na terra do Egito[i]”; “Em casos de afeição na pele, tome o máximo cuidado para fazer exatamente o que os sacerdotes levitas lhe instruem. Lembre-se do que seu Deus fez a Miriam na jornada, depois que você deixou o Egito[ii]”. “Lembre-se do que Amalek fez a você em sua jornada, depois que você deixou o Egito ... você apagará a memória de Amalek”[iii]. Claramente, os principais eventos do passado não são simplesmente história, mas memória viva e ativa que continua a moldar a identidade judaica no presente. Ao contar a história do nosso passado, aprendemos quem somos e quem devemos nos tornar.


No judaísmo reforçamos a memória coletiva através do ritual. Em Pessach o seder nada mais é do que a encenação da libertação de Mitsraim; quando pegamos o rolo da Torá da arca, estamos revivendo a entrega da Torá no Sinai, e a hakafá (passeio da Torá) por meio da congregação nos lembra que todos nós estávamos no Sinai. Em Iom Kipur, durante o serviço de Avodá, nos juntamos ao antigo Sumo Sacerdote no Kodesh haKodashim - Santo dos Santos, e o acendimento das velas de Chanucá resume a história dos Macabeus e a rededicação do Templo em Jerusalém.


No Kadish lembramos aqueles que nos deixaram, mas também nos lembramos que há uma vida a ser vivida em sua plenitude.


Por outro lado, somos comandados a lembrar dos amonitas, moabitas e amalekitas. Porque os amonitas e moabitas não forneceram comida a Israel no deserto, os descendentes dessas nações deveriam ser excluídos da congregação de Deus, até a 10ª geração[iv]. Porque Amalek nos atacou no deserto, devemos nos lembrar de apagar Amalek, sendo esta a mensagem final da parashá.


“O processo de lembrar traz consigo uma obrigação de discernimento ético: quais memórias queremos afirmar e desenvolver e quais queremos repudiar ou transformar? Não podemos esquecer os mandamentos de excluir os amonitas ou apagar a memória de Amalek porque sua presença na Torá nos lembra de como é fácil responder à vingança com mais vingança, ou injustiça com mais injustiça.” ensina a acadêmica americana Judith Plaskow[v] “Lembre-se de apagar a memória de Amalek”, lembre-se de esquecer. O que parece um comando antagônico talvez traga em si uma lição importante. Devemos nos lembrar constantemente de apagar injustiças de nosso meio, ao ponto de podermos esquecê-las.


Ontem eu falei sobre o comando de não nos mantermos inertes diante de situações de injustiça, lembramos do maravilhoso trabalho do nosso rabino Sergio Margulies, mas também da lembramos da perda do rabino Dick Hirsch z’l, que dedicou a sua vida ao propósito de construir um mundo melhor, baseado em suas crenças, e nos valores morais que são a base do judaísmo reformista.


Que saibamos ler e interpretar o texto da Torá, em tudo o que há de positivo e negativo de sua narrativa, para que possamos não ficar inertes diante de injustiças, lembrar de apagá-las ao ponto de esquecer. Que possamos lembrar a trajetória de nossos líderes com orgulho, nos espelhando em seus exemplos para construir e manter a nossa memória coletiva viva.


Shabat Shalom.

[i] Devarim 24:22 [ii] Devarim 24:8-9 [iii] Devarim 25:17-19 [iv] Devarim 23:3-4 [v] The Torah: A women’s Commentary, edited by Tamara Cohn Eskenazi and Andrea L. Weiss – URJ Press e Women of Reform Judaism

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