Chegamos a Rosh Hashaná, quando lemos a história de Hana, esposa de Elcaná, que também tinha outra esposa, Pnina. Pnina tinha filhos, mas Hana tinha o “ventre fechado”. Apesar de Elcaná demonstrar seu favoritismo por Hana, ela era infeliz por não ter filhos. Em uma de suas peregrinações a Shiló, em desespero após ter sido provocada por Pnina, Hana vai ao templo, chora e reza. Hana pede para “ser lembrada”, pede por um filho, que dedicará ao serviço do Templo. Porque ela mexe a boca, mas não fala, Eli, o sacerdote, a toma por bêbada, mas ela explica que está desesperada. “E Deus se lembra de Hana” e ela engravida, dando à luz um menino – Shmuel. Quando foi desmamado, Hana o leva ao templo, como prometido, e o entrega a Eli. Hana reza mais uma vez, mas desta vez um cântico de louvor e reconhecimento. Tenho uma questão com Hana. Como mãe, nunca entendi o desespero por ter um filho, versus entregá-lo ao Templo após o desmame. Mesmo que consideremos que, naquela época, um bebê não era desmamado aos 6 meses (ou 1 ano como fiz com os meus) mas, provavelmente entre os 2 e 3 anos, abrir mão de seu filho desta forma me parece inconcebível. O desmame também é mencionado na parashá que lemos em Rosh Hashaná. Avraham dá uma festa quando Sara desmama Itschak. A rabina Serena Raziel Eisenberg chama atenção para o fato de que após o desmame, a palavra em hebraico para se referir à criança no texto bíblico muda de ieled para naar. Neste paralelo, também Ishmael, ao ser deixado embaixo do arbusto ao estar morrendo de sede deixa de ser ieled para ser naar. Assim, o desmame passa a ser simbólico do momento em que uma mãe deixa de ser a fonte principal de proteção ao filho, passando a ser necessária a proteção divina em parceria. Em nossa gíria: “entregamos a Deus” quando o nosso esforço não é mais suficiente. Sou mãe de adolescentes, para mim, esta necessidade em acreditar que há algo maior cuidando dos meus filhos a cada vez que eles saem para balada, ou no tempo em que estão longe estudando, é absolutamente compreensível. Mas esta não é uma necessidade universal, qual seria então a mensagem que Sara, Hagar e Hana nos trazem ao desmamarem seus filhos e os entregarem a Deus? “Quando nos voltamos para Deus em tempos de desespero, como fez Hana, que orou em sua amargura, é reconfortante encontrar um Deus que acalmará nosso sofrimento com fontes de compaixão. A história de Hana nos ajuda a descobrir o Divino bem dentro de nós, a fonte da qual transbordamos e nutrimos os outros.” É o que sugere a rabina Serena. Nos dias estranhos que vivemos, entre a espera por uma vacina e o desespero em voltar a encontrar familiares e amigos, aprendemos a ter esperança, a buscarmos conforto na tfilá, ou na maneira pessoal de cada um de nós para conexão do divino dentro e fora de nós mesmos. Que este seja um Rosh Hashaná com profundidade. Que possamos rezar apesar da dificuldade que a distância física nos impõe. Que encontremos nossa fé hoje, para alimentarmos nossa esperança no amanhã. Shaná Tová!
top of page
bottom of page
Comments