top of page

Haftará Naso - Juízes 13:2-25

Enquanto a parashá Naso fala sobre o voto de nazirato, a haftará fala da promessa de concepção de Shimshon, Sansão, personagem que foi dedicado ao nazirato desde o útero materno, por indicação divina. Haftarot que contam histórias são uma delícia de ler. Esta não é diferente. A delícia reside na facilidade de compreensão do texto, ainda mais este que faz parte tão forte de nossa tradição, iniciando a história de vida de Sansão. No entanto, há um detalhe do texto que incomoda: em nenhum momento ouvimos o nome da “mulher de Manoah” “mãe de Shimshon”. Esta mulher é sensível o suficiente para, em um olhar, entender que está tratando com um ser divino, um enviado de Deus; enquanto seu marido somente o compreende quando vê o enviado sumir na fumaça de sua oferta queimada. Esta mulher compreende imediatamente sua função e o que deve fazer; enquanto seu marido precisa de diversos parágrafos para se convencer. Esta mulher sabe que foi abençoada e imbuída de uma missão divina; mas seu marido acha que vai morrer por ter visto um anjo. Mas esta mulher não merece um nome no texto bíblico. Claramente ela, a mulher sem nome, objeto reprodutor, é mais sensível, mais inteligente e mais esperta que seu marido. Ela que é buscada pelo anjo duas vezes. Ela que compreende e se mantem calma com sua função. Ela que criará Sansão conforme seu discernimento, cuidando para que ele se mantenha Nazireu por toda sua vida (ou enquanto uma mãe tem a possibilidade de cuidar de um filho). Mas talvez resida na inteligência desta mulher sem nome, muito especial, a explicação para sua falta de nome. Quando ela é buscada pelo anjo a primeira vez, ela imediatamente vai contar ao marido. Ele, obtuso, não acredita e pede a Deus uma nova visita. Quando ela é visitada pelo anjo na segunda vez, a mulher corre e busca seu marido para que ele pergunte, tire dúvidas, compreenda, o que ela já compreendeu. Em todo o processo, para que possa cumprir sua missão, ela envolve o marido de tal forma que ele se sinta importante e parte desta missão. Nada tira a importância dela em ser a ungida divina para dar à luz um herói de nossa tradição. Esta mulher se despe de seu ego, de seu nome, de sua marca, para poder cumprir sua tarefa divina. Quantas vezes nos atrelamos tanto ao ego, à imagem, que acabamos por não cumprir a tarefa, ou atrasamos sua execução? Quantas vezes nos colocamos acima do objetivo, e com isso tiramos o brilho do resultado? A acadêmica Tamar Kadari chama atenção para o fato que “a esposa de Manoah, mãe de Sansão, está incluída entre as 23 mulheres verdadeiramente corretas e justas que se destacaram de Israel e entre as vinte e duas mulheres dignas do mundo”. Já o no Talmud, em Bava Batra 91ª nossos sábios decidem nomear as mulheres sem nome da Torá: “a mãe de Sansão se chamava Tselelponit e sua irmã se chamava Nashyan... Pode-se responder que existe uma tradição sobre seus nomes.” Para nós, mulheres, é importante que nossas referências bíblicas tenham um nome. Elas são várias, são exemplos, e aparecem para nos contar histórias e performar ações importantes. A decisão de nomear estas mulheres, tomada por nossos sábios, nos vem mostrar a importância de reconhecer e nomear as pessoas por suas realizações. Tselelponit vem nos ensinar que às vezes a mais sábia das decisões é despir-se do ego e do nome, para simplesmente cumprir a tarefa, o chamado divino. Shabat Shalom.





2 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page